CONECTARTE – O POEMA E A IMAGEM

0
Rate this post

logosetubalnarede-1475490

topo2-9697138

FridaKahlo- self portrait1929

O Amor em Visita

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra

o seu arbusto de sangue. Com ela

encontrarei a noite.

Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.

Seus ombros beijarei, a pedra pequena

do sorriso de um momento.

Mulher quase incriada, mas com a gravidade

de dois seios, com o peso lúbrico e triste

da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar,

Uma mulher com quem beber e morrer.

Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave

o atravessar trespassada por um grito marítimo

e o pão for invadido pelas ondas,

seu corpo arderá mansamente sob o s meus olhos palpitantes

ele – imagem inacessível e casta de um certo pensamento

de alegria e de impudor.

Seu corpo arderá para mim

sobre um lençol mordido por flores com água.

Ah! Em cada mulher existe uma morte silenciosa:

e enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,

os bordões da melodia,

a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,

desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.

– Ó cabra no vento e na urze, melhor nua sob

as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe

mulher de pés no branco, transportadora

da morte e da alegria!

Herberto Helder