O subtil, o reflexo, o vago, o indefinido, Tudo o que o nosso olhar só vê por um momento, Tudo o que fica na Distância diluído, Como num coração a voz do sentimento. Tudo o que vive no lugar onde termina Um amor, uma luz, uma canção, um grito, A última onda duma fonte cristalina, A última nebulosa etérea do Infinito… Esse país aonde tudo principia A ser névoa, a ser sombra ou vaga claridade, Onde a noite se muda em clara luz do dia, Onde o amor começa a ser uma saudade; O longínquo lugar aonde o que é real Principia a ser sonho, esperança, ilusão; O lugar onde nasce a aurora do Ideal E aonde a luz começa a ser escuridão… A última fronteira, o último horizonte, Onde a Essência aparece e a Forma terminou… O sítio onde se muda a natureza inteira Nessa infinita Luz que a mim me deslumbrou!… O indefinido, a sombra, a nuvem, o apagado, O limite da luz, o termo dum amor Tornou o meu olhar saudoso e magoado, Na minha vida foi minha primeira dor… Mas hoje, que o segredo oculto da Existência, Num momento de luz, o soube desvendar, Depois que pude ver das Cousas a essência E a sua eterna luz chegou ao meu olhar, Meu infinito amor é a Alma universal, Essa nuvem primeira, essa sombra d’outrora… O Bem que tenho hoje é o meu antigo Mal,
A minha antiga noite é hoje a minha aurora!…
Teixeira de Pascoaes
“Rapto na paisagem povoada”, António Pedro