Horas rubras
“A cidade adormecida”, Paul Delvaux
Horas profundas, lentas e caladas,
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…
Oiço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata plas estradas…
Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos…
Vestiu-os o luar de sedas puras…
Sou chama e neve branca e misteriosa…
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!
Florbela Espanca