Texto em modo subjectivo
Um raio! Um risco branco no céu a cortar nuvens e a fazê-las em pedaços!
Um raio, um trovão, um açoite
Açoitados na noite, sois!
Centenas de milhares de agulhas! Agulhas em vossos corpos quentes!
É a chuva gelada que acorda,
Descrente horda, a vós!
Ponderai sobre as cores que surgem no mar negro e reflectido nas faces!
Múltiplas uma a cor do raio
O término do ensaio, pois!
Perante vós estão dois!
Levantai as cortinas deste teatro vampiresco de sangue, suor e almas!
Antes da estreia, batei palmas!
Vossas salvas, aos dois!
Abrem-se as cortinas …. o palco é uma colina …e a plateia é o mundo.
Ouve-se o narrador:
“E as cores do azul?
Não foram esquecidas.
Tímidas…escondiam-se entre disfarces, mas assim perpetuaram-se.
Hoje o globo é azul, como só há-de ser.
Todos têm nos rostos o reflexo de uma pintura em azul imensa.
Intensa.
Por mil palavras bonitas os heróis do azul contaram-nos suas peripécias.
Por mil cantos anciãos e futuristamente modernos foram narradas suas vitórias.
E hoje os heróis são espectadores de seu próprio feito e regem salvas de palmas aos que apenas os viram passar.”
O público bate palmas e espera que os artistas entrem em cena. Esquecia que estavam todos nus em meio a uma tempestade e que a voz que escutavam não vinha de lugar algum, mas de toda a parte. Mal se apercebiam, aquelas pessoas, que seu pés não tocavam o solo . Todos apenas aguardavam como se talvez tudo fosse um sonho e por isso aceitavam tudo o que lhes era apresentado. Tudo o que viam.
Espectadores de um palco vazio…
Ainda esperavam que algo lhes fosse mostrado à frente…e dos seus lados não se apercebiam…não espectavam.
E a vida lhes passava desapercebida.
“Descrentes do amor sois”
“Descrentes sois”
“E mereceis nosso aplauso por vossa tremenda falta para connosco”
“Somos vós e sois nós”
“Não somos ninguém”
As vozes do artista – a voz dos artistas era a sentença por tamanha ignorância.
Em outro plano, os felizes heróis do azul são campeões anónimos e como prémio são dois e todos os sucessos de bilhões.