[ Setúbal na Rede] – Desenvolvimento Social

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por Ana Mendes
(socióloga)

Solidariedade e caridade
Qual a diferença?

Visto que vivemos a quadra natalícia, tradicionalmente uma época em que a palavra solidariedade aparece na boca de toda a gente – seja a propósito ou não – gostaria, também eu, de falar sobre solidariedade.

Na verdade o que se me afigura é que a maioria das pessoas ainda não consegue distinguir entre solidariedade e caridade, e que infelizmente o que se pratica é caridade, por ser mais visível e mais fácil

Fala-se constantemente do combate à pobreza e aos factores que a ela conduzem, e de facto a solidariedade é a melhor forma que temos de ajudar aqueles que têm maiores dificuldades. Contudo o problema é que não se atacam as causas, na verdade atenuam-se as consequências, pelo que não se consegue atingir soluções. Solidariedade é dar a cana e ensinar a pescar, mas o que se faz é caridade, porque dá-se o peixe, e às vezes já cozinhado!

Em termos sociológicos já desde há muito que se estuda o fenómeno da pobreza, inúmeros cientistas e estudos têm-se dedicado a este tema, visto que é algo que atinge todas as sociedades – com maior ou menor intensidade – embora as necessidades de um pobre de um país nórdico como a Suécia ou a Finlândia pouco tenham a ver com as necessidades de um pobre na Índia, recorrendo aos exemplo mais extremos que me ocorrem neste momento.

As três teorias mais aceites são a Teoria das Minorias, a da Sub Cultura da Pobreza e a do Ciclo de Pobreza. A primeira que diz que é pobre quem tem qualquer coisa na sua vida que o coloque numa minoria, como por exemplo a morte do principal ganha pão da família. A segunda que os pobres têm uma cultura própria, uma estrutura cultural e mental que passa de pais para filhos, cujos traços principais são uma certa dose de imprevidência, incidência de alcoolismo, falta de disciplina pessoal, o uso de violência para resolver controvérsias e educar os filhos e situações familiares irregulares; todos estes factores, conjugados geram a pobreza. Finalmente a teoria do Ciclo da Pobreza diz que esta tende a perpetuar-se de geração em geração pois quem nasce num ambiente pobre não recebe uma educação que o incite a melhorar- se e sofre de várias carências , não recebe instrução e disciplina, pelo que não se consegue habituar a levar uma vida regular. Ainda existem outras correntes, nomeadamente uma que afirma que a pobreza passa por um factor genético!

Evidentemente que a forma mais correcta de analisar a situação seria uma combinação das três teorias que sucintamente falei acima. Agora o que é importante que se compreenda é que é necessário actuar ao nível das causas, dando o peixe – e já cozido – não se resolve nada, apenas se perpetua uma situação de dependência, não se ensina a sobrevivência!

Se continuarmos a actuar desta forma, se não mudamos a maneira de pensar, nunca iremos mais longe que a caridadezinha que todos os anos por esta altura optamos por praticar. Há que dar sim senhora, mas a projectos que sejam de verdadeira solidariedade, não é oferecendo uma fatia de bolo rei a todos os pobrezinhos que lhes vamos resolver o problema, apenas o prolongamos.

Estamos na quadra em que é habitual, para que a nossa consciência, após termos gasto rios de dinheiro em coisas supérfluas, darmos umas migalhas aos pobrezinhos, oferecendo brinquedos usados às criancinhas dando cobertores aos sem abrigo “é preciso morrer quentinho” , dando sopa aos pobres “é preciso enganar a fome de todos os dias”.

Quando é que arranjamos coragem para ajudar quem precisa de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro, não como esmola mas como solidariedade activa???