«As receitas da quotização não chegam para pagar a estrutura do clube»
Ricardo Lopes Pereira
Por ocasião do 105.º aniversário do Vitória, o Diário da Região fez 10 questões ao presidente Fernando Oliveira com o objectivo de traçar o retrato actual do clube. O desempenho da equipa, as dificuldades de gestão, a necessidade de venda de jogadores e as relações com a autarquia foram alguns dos temas abordados pelo dirigente que lidera o leme embarcação sadina há sete anos consecutivos.
DIÁRIO DA REGIÃO (D.R.) – Está surpreendido com os 14 pontos e o 6.º lugar que o Vitória ocupa à 10.ª jornada?
FERNANDO OLIVEIRA (F.O.) – Depois dos jogos realizados tenho que dizer que estou surpreendido. Chegamos à conclusão que, com uma pontinha de sorte e alguma imparcialidade dos árbitros nalguns jogos, poderíamos ter, no mínimo, mais quatro pontos. Estou surpreendido por não termos 18 pontos. Só tenho elogios a fazer à equipa técnica liderada por Quim Machado e aos jogadores.
D.R. – O Vitória celebra 105 anos na sexta-feira. Em termos de gestão, como está o clube e comparação com há um ano?
F.O. – No último ano, o clube pagou à Segurança Social e Finanças próximo de quatro milhões de euros. Quando nos preocupamos com o passivo que o Vitória foi herdando fica claro que as dificuldades do Vitória não vão desaparecer de um momento para o outro. Estamos sempre à espera de conseguir verbas extras – como aconteceu com o Rúben Vezo e o Ricardo Horta – para liquidarmos quantias em dívida. Este ano tivemos mais dificuldades porque, para conseguirmos a certidão, pagámos em dinheiro quase dois milhões de euros às Finanças. Esse é dinheiro que nos fazia falta para resolver os problemas do dia a dia. Se não fosse isso, o Vitória caminharia de outra forma e tinha mais ambição. O futebol é assim: as receitas não cobrem as despesas. As receitas da quotização não chegam para pagar a estrutura do Vitória Futebol Clube.
D.R. – Qual o melhor presente de aniversário que o Vitória poderia receber?
F.O. – O clube não anda sem dinheiro. Queríamos que um ou dois jogadores fossem transferidos por verbas que pudessem melhorar a situação económica do Vitória. A formação é o nosso maior activo, mas este ano há muitas hipóteses de algum jogador da equipa sénior sair. O Vitória vai-se reestruturando. As coisas são muito difíceis para o Vitória e para a maioria dos clubes portugueses.
D.R. – Vários jogadores se têm destacado esta época. A possibilidade de algum sair em Janeiro é uma boa notícia?
F.O. – É. Não me preocupa nada a saída de jogadores, pelo contrário. Fizemos a equipa a pensar nessa possibilidade. Quando comprámos Suk, por exemplo, sabíamos que era um jogador vendável. Há também jogadores que têm agora uma visibilidade maior do que nos seus anteriores clubes e, por isso, valorizam-se mais. Estamos na expectativa que isso aconteça e já estamos preparados para colmatar essas saídas com outros jogadores.
D.R. – O recrutamento de jogadores em escalões secundários tem sido uma política seguida pelo clube. A par da aposta na formação esse é o único caminho viável para a sobrevivência do Vitória?
F.O. – É. Só não seria se um jogador de craveira internacional quisesse vir jogar para aqui de borla. Não estou a ver isso acontecer. O ano passado, aquando da saída de um treinador, dissemos que jamais a direcção e a estrutura do clube se divorciariam de participar nas aquisições. Quase todas as contratações foram feitas com acordo da estrutura do Vitória. Sentimo-nos lisonjeados e regozijados porque a aposta que fizemos surtiu efeito. Foi a nossa estrutura que conseguiu recrutar bons jogadores para formar a equipa. Os jogadores estão-se a valorizar e ao Vitória também. Não temos que recorrer a sábios, o que chegou a acontecer, para recrutar jogadores para o Vitória.
D.R. – No contacto que tem com os outros clubes, qual a imagem que os adversários têm atualmente do Vitória?
F.O. – Muito boa. O Vitória é uma das equipas portuguesas que não tem anti-corpos. É respeitado do Norte ao Sul do país e quase todas as pessoas, afectas a outras massas associativas, tem admiração pelo Vitória.
D.R. – Como está neste momento a relação entre o Vitória e a Câmara Municipal de Setúbal?
F.O. – Não comento.
D.R. – Sente que a cidade deveria apoiar mais o clube. Considera que existe um afastamento? Porquê?
F.O. – Temos feito tudo para que isso não aconteça. No último jogo em casa (Arouca) colocámos os bilhetes a dois euros em vez dos habituais cinco. Há explicações e a crise que o país vive não tem ajudado. As pessoas cada vez têm menos dinheiro para viver e gastam-no no essencial, deixando de lado o supérfluo. É mais importante ter pão em casa do que ir ao futebol.
D.R. – Já sabe dizer quando serão abertas as portas da sala de troféus?
F.O. – Que fique claro que nós não mexemos na sala de troféus. Os iluminados que o disseram não percebem nada de nada. Aproveitámos um projecto feito por um elemento da autarquia para dar amplitude à nossa sala de conferências de imprensa. A sala de troféus não era mais do que uma manta de retalhos e, por isso, entendemos que podíamos melhorar a sala de conferências, dando-lhe dignidade e condições de trabalho aos jornalistas. Foi uma obra simples. A sala de troféus continua a ser uma manta de retalhos. Colocámos mãos à obra numa parceria com dois associados que fizeram permutas com clube, que não investiu praticamente um tostão. Se niguém mexer na sala de troféus, quando nós arranjarmos dinheiro também lhe teremos de fazer obras.
D.R. – Qual a mensagem que vai transmitir aos adeptos no dia do aniversário?
F.O. – A mensagem é de esperança, vitalidade e entusiasmo. O recente exemplo da Caminhada do Vitória, que teve uma adesão de público bastante significativa, vem mostrar que o Vitória não está morto.