Reconstituição do Banho de São Romão
200 idosos vão a banhos como há 40 anos
Trajados à época, com farnéis ou melancias à cabeça, a pé ou em carro de burro, cerca de 200 idosos foram a banhos na costa de Santo André, como forma de relembrarem a sua juventude. A iniciativa teve lugar no passado dia 9 de Agosto, o mesmo dia em que, até há cerca de 30 ou 40 anos, gentes da planície litoral e da serra se juntavam no vasto areal, conjuntamente com a comunidade piscatória deste lugar para uma grande festa, considerada uma das mais importantes na zona ocidental do concelho de Santiago do Cacém e designada de Banho de São Romão.
Numa época de pobreza e de padrões morais e sociais muito rígidos, o dia de São Romão constituía um dia de confraternização, descompressão social e convívio. Segundo João Madeira, presidente da Associação Cultural de Santiago do Cacém, entidade organizadora do evento, foram estes e outros aspectos que se pretenderam revitalizar e assim “recuperar a memória colectiva, preservar este traço da identidade cultural local e potenciá-lo como factor de coesão comunitária”.
A “reconstituição” foi marcada por vários momentos, o primeiro com um desfile de cerca de duas centenas de pessoas vindas de freguesias que cercam a Costa de Santo André, com especial predominância para idosos vindos dos centros de dia e casas do povo.
A pé ou de carro de burro, trajados com as roupas de outros tempos, as melhores de que dispunham, carregando os farnéis e entoando “modas” que ainda permanecem nas suas memórias, chegaram à praia onde se organizam no areal estendendo as toalhas e dispondo o farnéis nas mesmas.
Depois seguiu-se o ponto alto do evento, a ida a banhos, que prendeu a atenção de todos os presentes na praia. Completamente vestidos, em combinação ou puxando as saias para cima, no caso das mulheres, arregaçando as calças ou em ceroulas no caso dos homens, lá foram entrando na água, parodiando, e dando a conhecer as brincadeiras de outros tempos que mais não eram do que simples rasteiras, empurrões e um sem número de quedas e tropelias na água.
Depois do banho foi tempo de reconfortar o estômago num almoço convívio onde não faltaram iguarias, como o frango com pimentos, o bacalhau e as grandes melancias. Iguarias que há 40anos se comiam somente em ocasiões especiais.
Depois de uma tarde de animação na praia com guitarradas, canções e desgarradas, o princípio da noite chegou com uma festa popular onde estiveram presentes cerca de uma dezena e meia de acordeonistas, além do grupo de danças de S. Francisco da Serra e o Grupo Coral de Cercal do Alentejo.
Para João Madeira, “foi como que o regresso, após 30 anos, das pessoas que antigamente iam aos Banhos de São Romão” uma tradição extinta há cerca de 40 anos por razões que se desconhecem, mas que “poderá dever-se ao desastre que se deu em 1963 na Lagoa, em que uma onda galgou a duna lagunar, entrando na lagoa e fazendo vitimas entre os pescadores”.