Greve no Arsenal do Alfeite em Almada
Os 2000 funcionários civis do Arsenal do Alfeite, em Almada, estão hoje (22 de Fevereiro) de greve, em defesa dos postos de trabalho. Desconfiam que o governo pretende transformar a empresa pública de reparação naval da marinha em sociedade anónima e como não têm obtido explicações sobre o assunto resolveram sair dos estaleiros para um protesto frente ao Ministério da Defesa.
Pelo menos 16 autocarros com trabalhadores do Arsenal do Alfeite saíram esta manhã dos portões verdes, no Laranjeiro, para o Ministério da Defesa, em Lisboa. Levam centenas de trabalhadores dos estaleiros, em greve desde as 11 da manhã até às 4 da tarde. São cinco horas de paralização para exigir uma explicação do governo sobre o futuro do Alfeite.
Desde o Verão do ano passado que varios factores parecem apontar para a privatização da empresa. Segundo explicou ao “Setúbal na Rede” Olinda Lima, da comissão de trabalhadores, “a primeira suspeita surgiu com a encomenda de 10 Patrulhões Oceânicos por parte da Marinha, para reforço da vigilância costeira. Primeiro foi designado o Alfeite como o estaleiro-guia desta encomenda, depois começou-se a falar dos estaleiros de Viana do Castelo, que acabaram por ficar responsáveis pelo serviço, ainda que em parceria com os de Almada”. O segundo facto que motiva a desconfiança dos trabalhadores dos estaleiros da marinha aconteceu em Setembro. Recorda Olinda Lima, “por essa altura soubemos que o governo tinha encomendado ao Banco Português de Investimento um estudo para definir o estatuto jurídico dos trabalhadores do Alfeite e apontar a viabilidade económica dos estaleiros”. A comissão de trabalhadores considerou este estudo o primeiro passo para a privatização da empresa responsável pela reparação naval da marinha, e pediram explicações : primeiro ao conselho de administração e depois ao Ministério da Defesa. Nunca obtiveram qualquer resposta. Olinda Lima lembra que “a comissão de trabalhadores deveria ter emitido um parecer sobre o estudo do BPI durante o mês de Dezembro, facto que não aconteceu. A administração, contactada já durante o mês de Janeiro, informou os trabalhadores que também não tinha sido chamada a pronunciar-se porque o estudo tinha seguido directamente para o governo”.
Desconhecendo, oficialmente, o documento, assim como as soluções apontadas para os 2000 postos de trabalho, com a eventual passagem a sociedade anónima, os trabalhadores resolveram marcar um plenário no exterior para discutirem formas de luta. Segundo a responsável pela comissão de trabalhadores “a administração começou por concordar com a reunião fora das instalações, no passado dia 15, mas depois não autorizou a picagem dos relógios de ponto para o plenário”. A comissão de trabalhadores e os delegados sindicais optaram então por realizar um outro plenário, no mesmo dia, mas dentro das instalações da empresa e com a participação de trabalhadores limitada pelo espaço disponível. Foi então decidida a greve e manifestação de hoje que, segundo Olinda Lima, “conta com o apoio da grande maioria dos trabalhadores”.
Depois do que aconteceu com as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, que de empresa pública passaram a sociedade anónima, com a dispensa e reestruturação de serviços, para além da perda de regalias para os trabalhadores, os funcionários do Arsenal do Alfeite temem pelo futuro e lembram o passado. Com 50 anos de história o Alfeite é ainda o único estaleiro do país que constrói e repara, exclusivamente, barcos da marinha, num encargo de 6 milhões de contos para o governo. A recente transferência dos estaleiros da Lisnave, vizinhos do Alfeite, para Setúbal e os conhecidos projectos urbanísticos da Câmara de Almada e de particulares para a frente ribeirinha da margem sul do Tejo avolumam o rol de suspeitas dos trabalhadores.