Margueira oficializa Manhattan em Cacilhas
O Fundo Margueira Capital, proprietário dos terrenos da Margueira em Cacilhas, entregou no passado dia 16, na Câmara de Almada, o pedido de informação prévio para loteamento dos terrenos dos antigos estaleiros da Lisnave. Com o pedido foi também entregue o polémico projecto Ulissul, mais conhecido como a “Manhattan de Cacilhas”, que esteve em debate público nos ultimos dois anos.
Depois de duas apresentações públicas, a primeira ainda em Abril de 1999 e a segunda no último mês, o Fundo Margueira Capital oficializou junto da Câmara de Almada, a intenção de construir o projecto Ulissul nos antigos terrenos da Lisnave de que é propritário. Na sexta-feira de manhã (dia 16) deu entrada nos serviços administrativos da autarquia o pedido de informação prévio para loteamento dos 49 hectares de terrenos que foram ocupados pela Lisnave nos últimos trinta anos. Segundo explicou ao “Setúbal na Rede” o presidente do conselho de administração do Fundo Margueira Capital, este facto “representa o início do processo burocrático para urbanização daquele espaço”. Ricardo Nunes aguarda agora “uma resposta da autarquia dentro dos prazos previstos na lei” para começar a passar para o terreno o polémico projecto Ulissul, assinado pelos arquitectos Manuel Graça Dias e Egas Vieira.
Com o pedido de informação prévio para loteamento deu também entrada na Câmara de Almada “os mapas, as peças e as cartas da urbanização, com a volumetria conhecida e as valências propostas para os antigos estaleiros”, sublinha Ricardo Nunes. Isto significa que ao fim de quase dois anos de discussão pública de ideias e soluções para a Margueira o projecto Ulissul foi oficializado junto da autarquia.
Ao que o “Setúbal na Rede” apurou junto da Câmara de Almada,” o processo vai agora seguir os seus trâmites legais”. O Fundo Margueira Capital, como proprietário dos terrenos, tem legitimidade para propôr a sua urbanização, “a autarquia deverá pronunciar-se de acordo com as opiniões dos técnicos especializados”, explica fonte da autarquia.
Já o presidente da Assembleia Municipal de Almada considera esta atitude do Fundo Margueira Capital “extemporânea tendo em conta que estão a decorrer contactos entre o governo e a câmara para uma solução para o aterro da Lisnave”. Em declarações ao “Setúbal na Rede” José Manuel Maia lembra que “o Fundo Margueira Capital tem capital maioritário do Estado, através do Ministério das Finanças, que é precisamente o interlocutor da autarquia nesta questão”. E, enquanto se aguardam conclusões do grupo de trabalho criado o mês passado, o presidente da Assembleia Municipal vai adiantando que “qualquer pedido de informação prévia para o loteamento daquele espaço tem que se enquadrar no plano de urbanização que a Câmara de Almada aprovou para toda a zona ribeirinha e que vai ser alvo de um concurso público internacional”.
O Fundo Margueira Capital defende para os antigos estaleiros da Lisnave uma urbanização de qualidade, com torres de oitenta andares, aproveitando a volumetria já existente no aterro. Do projecto faz ainda parte uma gare intermodal de transportes, a instalar na Doca 13, a maior doca seca do mundo, e uma ligação por túnel a Lisboa. A Ulissul pretende ser também um novo polo de desenvolvimento em Almada, com um centro comercial, vários serviços, equipamentos culturais e desportivos, espaços verdes, espelhos de água e uma estrada-viaduto, abraçando todo o complexo e ligando-o a Almada, baptizada de Elipse, por ser essa a sua forma geométrica.
Desde que foi tornada pública a “Manhattan de Cacilhas” tem dividido opiniões. A Câmara de Almada assumiu-se desde sempre contra este tipo de solução para a Margueira, defendendo em alternativa espaços de lazer junto ao rio e até a construção de uma Aldeia Olímpica. Nos ultimos meses a autarquia avançou com o lançamento de um concurso público internacional para a elaboração de um Plano de Urbanização da Frente Ribeirinha de Cacilhas ao Alfeite, englobando também os 49 hectares da Margueira. Recentemente também o Ministro do Ambiente quebrou o silêncio sobre o projecto das torres de oitenta andares, considerando a “volumetria excessiva” para aquele espaço.