Região defende pedagogia nos media
As dificuldades com que se debate o jornalismo regional, à luz de duas das grandes linhas de orientação (os fins comerciais e a importância de informar com seriedade), foram alguns dos temas discutidos ontem (3 de Abril) em Santo André num debate promovido pela Associação Cultural de Santiago do Cacém no âmbito das comemorações dos 27 anos do 25 de Abril. Um encontro em que foi ainda analisada a forma como os media abordam as questões da revolução dos cravos, tendo sido o livro do “Setúbal na Rede”, “Memórias da Revolução–25 Anos Depois”, apontado como um bom exemplo de trabalho jornalístico.
A tónica geral dos discursos referentes à forma como deve ser trabalhado jornalisticamente o 25 de Abril, centrou-se em torno de uma ideia: é necessário um outro olhar sobre este período da História que vá de encontro ao cidadão comum.
Por isso, no encontro foi dado como bom exemplo desta prática o trabalho desenvolvido pelos jornalistas Etelvina Baía e Pedro Brinca, que este ano levou à publicação do primeiro volume do livro “Memórias da Revolução-25 Anos Depois”.
Para Adelino Gomes, jornalista do Público, as entrevistas que compõem esta obra são “exemplares”, uma vez que “chamam a atenção para o facto de que a História é feita por todos nós”. Por outro lado, “traz-nos memórias do 25 de Abril que têm a mesma dignidade das que todos nós aprendemos”, ou seja, “as memórias dos vitoriosos e dos comandantes”.
E para que a revolução dos cravos possa ser contada também do lado dos que não ficaram para a História, Adelino Gomes defende que a imprensa regional “não deve olhar para fenómenos como o 25 de Abril de uma forma burocrática”.
Para Pedro Brinca, um dos autores do livro sobre o Período Revolucionário em Curso (PREC) no distrito de Setúbal, “a grande lição a tirar é de que se pode acreditar no sonho, pois quando se sonha podem fazer-se muitas coisas”. Convicto de que “quem faz aquilo em que acredita nunca se arrepende” garante que “o livro é reflexo disso mesmo”.
João Madeira, presidente da Associação Cultural, diz que o livro traz a fonte primária: o discurso directo, sendo este “um processo extremamente rico e vivido a cada dia pela experiência acumulada de quem viveu esses momentos”. Assim, defende que tais momentos “têm, necessariamente, de ser transmitidos às novas gerações”, não numa perspectiva glorificante ou até mitificada, “mas sim na perspectiva da herança cívica que importa transmitir”.
Outra das questões abordadas no encontro relaciona-se com o volume de trabalho com que os jornalistas da comunicação social regional se debatem, uma situação que, segundo os oradores, pode levar à criação jornalística imediata e de mais fácil leitura em detrimento de um trabalho mais exaustivo e de investigação.
Apesar de admitir que a comunicação social “é um produto que tem de vender” e que, por vezes, tal realidade origina “a tentação de ir de encontro ao que o público pede”, o director do “Setúbal na Rede”, Pedro Brinca, adverte que os media têm uma importante missão pedagógica a cumprir. Razão pela qual defende que os media devem ser vistos apenas na perspectiva comercial mas também como um produto de valor associado.
A função social dos media foi também evidenciada por Adelino Gomes ao considerar que para além dos meios de comunicação social “está o público”. Por isso, enfatizou a função social do jornalismo, salientando que o sentido da existência da profissão está na necessidade do público face ao produto jornalístico.