[ Dia 13-12-2001 ] – João Titta Maurício,delegado distrital do PP.

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Setúbal na Rede – Quais são as expectativas do PP relativamente aos resultados eleitorais do próximo domingo?

João Titta Maurício – No distrito, o PP concorre em coligação em cinco concelhos e sozinho noutros. Nos casos em que temos acordos e coligações esperamos uma melhoria substancial dos votos que o PSD e o PP tiveram em 1997. Desse crescimento esperado, o PP conta, pelo menos, com cerca de 15 a 20 novos autarcas. É o caso de Sesimbra, Setúbal, Alcochete, Sines e Palmela. Em Santiago do Cacém, onde concorremos sozinhos, esperamos um bom resultado pois a receptividade tem sido muito boa. No mínimo contamos recuperar o autarca que tínhamos na Assembleia Municipal, ou até dois. E pela forma como as coisas têm corrido, não me espantaria que elegêssemos um vereador. Em Almada, Narana Coissoró tem feito um óptimo trabalho e contamos eleger um ou dois representantes para a Assembleia Municipal. Para a Câmara, admito que seja mais difícil embora o cabeça de lista tenha sido inexcedível no trabalho que tem vindo a desenvolver. Eleger, ou não, um vereador, vai depender muito de conseguirmos capitalizar também para a Câmara os votos do eleitorado do social democrata Marçal Pina, o presidente e recandidato à Junta da Costa da Caparica. 

No Seixal, podemos ter bons resultados na freguesia de Fernão Ferro e poderá até acontecer que consigamos eleger um deputado municipal. No Montijo, as sondagens são de molde a acreditarmos num resultado bastante agradável: dois membros na Assembleia Municipal. Estamos a fazer um esforço para conseguirmos levar o candidato Vítor Ginjeira à vereação. Vai ser difícil, mas não impossível. Isto depende muito do resultado do PS, ou seja, se Maria Amélia Antunes consegue, ou não, mais votos. Na Moita, estou à espera da resposta ao apelo que fiz à ‘maioria silenciosa’, ou seja, os abstencionistas, que no concelho chegam aos 55%. Estou a contar com um bom resultado mas isso depende do grau de mobilização das pessoas. Na Moita, como não houve coligação, optei por não candidatar ninguém do PP na freguesia de Vale da Amoreira e apelar directamente ao voto no candidato do PSD. Por outro lado, apelei descaradamente ao eleitorado do PSD para votar em mim para a Câmara Municipal porque sou o único representante da direita. 

SR – Tal como os outros partidos, o PP aposta forte na capital de distrito. Que possibilidades tem a coligação, em Setúbal?

JTM – Tenho muita pena do que tem vindo a acontecer na comunicação social, nomeadamente a nacional, que tem tido sondagens que colocam a coligação PSD/PP em segundo lugar e não as divulgam. Contrariamente ao que se quer fazer crer, em Setúbal não há uma bi-polarização mas sim uma tri-polarização. Mas o PCP manobrou as coisas muito bem, fazendo crer que a discussão era apenas entre a CDU e o PS e que as coisas se resumem a ver se Carlos de Sousa desaloja Mata Cáceres. Mas é preciso ver que desalojado já ele está e que a diferença está em ser desalojado por Carlos de Sousa – e se isso acontecer é um prato requentado porque CDU já cá esteve -, ou se é desalojado por uma verdadeira alternativa que está sinceramente com Setúbal. Quando existe eleitorado do PP, do PSD e descontentes do PS disposto a votar CDU para derrotar Mata Cáceres, quando ao lado tem uma alternativa forte e inteligente, só me apetece citar Marcelo Rebelo de Sousa: “todas as pessoas que votam útil, no dia seguinte vão perceber a inutilidade do seu voto”. O voto útil é votar naqueles em que acreditamos, pelo que os que votam na CDU para desalojar Mata Cáceres, quando há uma alternativa com propostas à direita, sinceramente, não estão com Setúbal.

SR – Se o PP, que tem apenas um autarca eleito em todo o distrito, reforçar a sua presença em vários concelhos, sentir-se-á vitorioso?

JTM – Teoricamente o CDS/PP já ganhou, porque vai aumentar o número de eleitos no distrito. Já ganhou também o CDS/PP nacional porque vai passar a verificar que o distrito de Setúbal não acaba a meio da ponte Vasco da Gama ou da ponte 25 de Abril, e já ganhou a direita já ganhou porque está a falar a uma só voz. A partir de Janeiro, o deputado eleito por Setúbal, Rosado Fernandes, vai contar com muito mais informação sobre a região e terá pessoas a trabalharem em conjunto, no terreno, para que as questões do distrito sejam trabalhadas no parlamento. E tenho a certeza de que, com isso, a actuação do deputado eleito pelo distrito vai ser agora mais coordenada, mais acompanhada e mais fundamentada porque, contrariamente ao que acontecia, passamos a ter eleitos e dirigentes que façam a ponte entre os concelhos e o deputado.

Contra ventos e marés internas e aqueles desavindos que apenas olham para dentro do partido e para as coisas do social sem se preocuparem com a política, a grande vantagem que o PP ganha não é a de passar a ter mais autarcas, mas sim o passarmos a poder fazer política, deixando de olhar para dentro e fazer política a sério no distrito olhando para as pessoas. E isso resulta do mero facto de passarmos da mera política interna e do constante olhar para o umbigo, para a organização e responsabilidade para com os nossos eleitos. Pela primeira vez, vamos ter de criar estruturas de modo a ouvirmos os autarcas eleitos pelo PP e levar à Comissão Distrital, à Comissão Directiva Nacional do partido e à Assembleia da República os problemas que eles sentem nos seus concelhos.

SR – A aproximação do PP e do PSD, no distrito, através de coligações e acordos, é para ficar?

JTM – O relacionamento com o presidente da Distrital do PSD, Luís Rodrigues, tem sido excelente e isso reflectiu-se nas coligações e nos acordos efectuados. É nossa vontade, e isso está estabelecido no acordo que fizemos, que estes acordos e coligações perdurem e se multipliquem pelos outros concelhos. Este trabalho conjunto é para continuar porque trata-se de projectos desenhados para oferecer uma alternativa.

SR – A campanha eleitoral deixou-o satisfeito?

JTM – Não. A campanha teria corrido bem se tivéssemos tido mais tempo ou se as coisas tivessem corrido como nós desejávamos. Do ponto de vista da disponibilidade dos candidatos e do partido foi óptima, mas somos um partido pobre e não temos os meios de campanha que muitos outros têm. Apesar disso, a receptividade que tivemos da população excedeu todas as expectativas.

SR – O facto de terem ocorrido atrasos na concretização de algumas coligações ou acordos com o PSD, terá contribuído para uma campanha menos forte do que esperava?

JTM – Se tivéssemos tido mais tempo, talvez uma semana, um mês ou seis meses, para preparar com calma as coligações, a campanha podia ter sido preparada de outra forma. Estas coisas preparam-se com cerca de um ano de antecedência, mas eu tive muito pouco tempo para isso pois fiquei à frente da distrital do PP quase em cima das autárquicas. Se há um ano, os dirigentes do partido tivessem feito o mesmo que fez Anacoreta Correia, que começou a preparar a campanha com um ano de antecedência, talvez não estivéssemos agora a discutir estas coligações mas sim muitas outras pelo distrito. E mais, estaríamos a discutir coligações vitoriosas.  Por exemplo, no Seixal não houve coligação por uma questão de horas.

SR – Receia os efeitos do abstencionismo nestas autárquicas?

JTM – A abstenção é o grande problema de todos os partidos e de todos os candidatos. Acho que as pessoas precisam de ser mobilizadas e temos que lhes dizer que é necessário participar e decidir. Se não votamos, depois não temos autoridade moral para contestar ou tomar posição relativamente às políticas locais. Há uma enorme faixa do eleitorado que se abstém nas autárquicas, é um fenómeno conhecido mas que tem de ser contrariado. Por isso, apelo ao voto dos eleitores do distrito. No domingo, vão votar, mas votem em consciência.  seta-3796099