Setúbal na Rede – A seis dias da ida às urnas, mantêm-se as expectativas da CDU no reforço do número de câmaras e de eleitos?
Jorge Pires – Em Março fixámos publicamente os nossos objectivos eleitorais e eles mantêm-se. Vamos reforçar todas as posições da CDU em todos os órgãos autárquicos do distrito. Isso significa ganhar mais autarquias, assembleias municipais e mais juntas de freguesia. São objectivos que estão ao nosso alcance, não só pelo trabalho realizado nestes últimos quatro anos como também por todo o trabalho realizado nesta região ao longo dos últimos 27 anos, e pelos nossos candidatos que são pessoas prestigiadas, conhecedoras da região e com propostas concretas para os respectivos concelhos.
SR – Contudo, algumas sondagens dão um empate técnico, com o PS, no Barreiro, e a perda da maioria absoluta da CDU em Santiago do Cacém.
JP – A melhor sondagem é a de dia 16, por volta das 20h, altura em que os resultados começam a surgir. Sondagens há para todos os gostos e até podia falar de algumas que foram publicadas há quatro anos, nos últimos dias de campanha, e que apontavam números que nada tiveram a ver com os resultados concretos. Neste momento muita coisa continua por definir e isso é provado por estudos de opinião recentes que indicam a existência de muitos indecisos e níveis de abstenção bastante elevados. Portanto, esta última semana de campanha é decisiva para muita gente fazer a sua opção de voto.
É natural que nesta altura surjam sondagens em todo o lado e que, até pelas influências que se tem neste ou naquele órgão de comunicação social, se façam passar uns indicadores e outros não. Isso verifica-se, por exemplo, no Barreiro, onde sabemos existirem outros indicadores com resultados diferentes. Até sabemos de uma sondagem que dá a vitória à CDU e não vai ser publicada. Mas a questão central é esta: nós andamos na rua desde Março, conhecemos bem as pessoas, sabemos a forma como estão a receber os nossos candidatos e há, de facto, um grande sentimento de simpatia para com as candidaturas da CDU. As pessoas sabem que há trabalho realizado e, no caso do Barreiro, acredito que estamos perante o melhor mandato desde 1976.
Em Santiago do Cacém, também fizemos uma boa aposta. Vítor Proença é um homem com prestígio e conhece bem a realidade daquele concelho e da região. É relativamente jovem, tem trabalho feito e pode dar muito ao concelho. É uma boa aposta nossa e, evidentemente, muito melhor que a aposta do PS.
SR – Terá sido um risco avançar com a candidatura de Ana Teresa Vicente a Palmela, num concelho que tem como ponto de referência o nome de Carlos de Sousa?
JP – Quando se fazem apostas correm-se sempre riscos, seja neste ou noutro concelho. Quando decidimos candidatar Carlos de Sousa a Setúbal e Ana Teresa Vicente a Palmela, sabíamos perfeitamente que íamos apostar em duas pessoas de grande prestígio e capacidade. Carlos de Sousa, enquanto presidente da Câmara de Palmela durante dois mandatos, criou um prestígio muito forte, realizou trabalho e é reconhecido por isso, inclusivamente em Setúbal. Eu recordo que o movimento de opinião criado em Setúbal, em volta da possibilidade de uma candidatura de Carlos de Sousa, resultou precisamente do conhecimento que as pessoas têm do trabalho que ele realizou em Palmela.
A candidatura de Ana Teresa Vicente é uma candidatura natural e vem no seguimento do bom trabalho que ela tem vindo a realizar na equipa de Carlos de Sousa, à frente da autarquia. É uma autarca com um grande conhecimento da realidade do concelho e da região, e tem experiência de trabalho autárquico em Palmela, adquirida ao longo dos últimos oito anos: os primeiros quatro como adjunta do presidente da Câmara e no presidente mandato como vereadora. É uma candidata que conhece o terreno, conhece as pessoas, tem enormes capacidades e muito a dar a Palmela.
Por outro lado, há um aspecto que não consideramos uma questão menor: a da maior participação das mulheres na vida política. Enquanto outros andaram por aí a gritar que era necessário aprovar legislação para que isso acontecesse, nós, que não defendemos as quotas, decidimos aumentar o número de mulheres a encabeçar as listas candidatas e, naturalmente, virem depois a ocupar a presidência das câmaras a que se candidatam.
SR – Em Setúbal, capital de distrito, é onde o PS e a CDU jogam mais forte. Acredita que Carlos de Sousa tem condições para ganhar a Câmara?
JP – Tenho a certeza de que o candidato da CDU tem todas as condições para ganhar e acredito que vai ganhar a Câmara de Setúbal. Neste concelho regista-se um sentimento muito forte de mudança e isso compreende-se porque as pessoas até sentem pena de terem um presidente de Câmara e recandidato pelo PS, que não consegue ter uma intervenção pública decente. As pessoas estão desiludidas porque o candidato do PS nunca teve intervenções públicas tão baixas como as que tem tido nesta campanha eleitoral.
Efectivamente dá pena. No sábado, ouvi a cabeça de lista da CDU à Assembleia Municipal, Odete Santos, dizer isso e concordo. Dá realmente pena ver aquela figura na televisão. Creio que os setubalenses reconhecem que, naquela que é a capital do distrito, temos de elevar o nível da política e ter, nas instituições, pessoas realmente à altura do cargo que ocupam. Uma pessoa que diz à comunicação social que, se fosse munícipe em Setúbal votaria em Jorge Coelho porque é uma arma secreta e o Mantorras do PS, não merece qualquer credibilidade.
Então um candidato à presidência da Câmara apela ao voto no candidato à Assembleia Municipal e não ao voto em si? Não se percebe muito bem uma coisa destas. Ou será que ele acha que as pessoas são parvas e pensam que pondo a cruz no Jorge Coelho estão a votar para a presidência da Câmara? Ora, as pessoas não são parvas e sabem quem é candidato à Câmara e quem é candidato à Assembleia. Isto mostra o desespero e o nível com que o PS tem vindo a fazer esta campanha.
Aliás, o PS, que tem um responsável distrital profundamente anti-comunista, tem vindo a fazer uma campanha anti-comunista primária em todos os concelhos. Há já muitos anos que não se via uma coisa destas. Estão a utilizar os papões que foram utilizados entre 1974 e 1976, mas isso agora já não funciona porque as pessoas não vão atrás.
Isto só demonstra que o PS está desesperado e tem falta de propostas e de trabalho feito.
SR – Este ano, a abstenção vai ser, novamente, o grande adversário de todos os candidatos?
JP – Não me parece que a abstenção baixe muito este ano. Estamos no terreno, desde Março, mobilizando as pessoas para o exercício do direito de voto e somos os únicos a fazê-lo. Ninguém vê outros partidos a fazerem campanha de rua. O que se vê é os que têm muito dinheiro, nomeadamente o PS, a colocar painéis em tudo o que é sítio. Nascem painéis do PS todos os dias, nomeadamente em Setúbal e no Barreiro, e isto é impressionante porque custam milhares de contos. Mas a campanha do PS resume-se aos painéis. Nós, pelo contrário, estamos na rua com campanhas porta a porta, contactamos com as pessoas e fazemos prestação de contas, coisa que o PS não fez nem faz.
E é precisamente por todos estes contactos que sinto que as pessoas estão muito desiludidas com a política, sobretudo porque criaram uma grande expectativa em volta do Governo do PS. Os eleitores estão completamente desenganados e sentem-se frustrados. Depois, o facto de algumas figuras políticas irem para os órgãos de comunicação social com uma linguagem arrogante – e nalguns casos a roçar a ordinarice -, em vez de esclarecerem o eleitorado, desilude ainda mais as pessoas e isso acaba por se reflectir nos números da abstenção.
O que nós queremos é que as pessoas participem e exerçam o seu direito de voto, por isso temos vindo a desenvolver todos estes contactos. Acredito que esta última semana de campanha será decisiva, vamos continuar a desenvolver esforços para mobilizar o eleitorado do distrito, mas não me parece que os números da abstenção venham a descer muito nestas eleições.