[ Dia 08-02-2002 ] – Sesimbra faz acordo com CDU mas dá pelouros a toda a oposição.

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Sesimbra
faz acordo com CDU mas dá pelouros a toda a oposição

Quase dois meses depois das eleições autárquicas, o presidente da Câmara de Sesimbra decide distribuir pelouros pelos vereadores eleitos. A medida foi avançada esta semana mas, mesmo assim, o dossier autárquicas está longe de ser encerrado porque os eleitos do PSD estão renitentes em aceitar as funções que lhes foram propostas. Por outro lado torcem o nariz ao acordo firmado entre o PS e a CDU.

Com uma maioria relativa às costas, o autarca socialista reeleito em Dezembro sente dificuldades em formar consensos que permitam gerir o concelho sem grandes percalços. Por isso, resolveu fazer um acordo com os eleitos da CDU, uma decisão que, de resto, deixou adivinhar assim que se tornaram conhecidos os resultados eleitorais. Na altura, Amadeu Penim tinha avançado ao “Setúbal na Rede” que, a haver acordo, “só pode ser feito com a CDU” por se tratar de uma força de esquerda e a segunda mais votada pelos eleitores sesimbrenses.

Mas se o acordo tem a bênção dos comunistas e do líder da bancada CDU, na Câmara, Augusto Pólvora, que promete um mandato “de trabalho em prol do concelho”, o mesmo não se pode dizer da bancada do PSD, cujo dirigente, Manuel Adelino vê o acordo como “uma anedota, uma união contra-natura originada pela vontade de alguns em arranjar tachos e de outros em promover a desestabilização”.

O acordo entre o executivo socialista e a bancada da coligação de esquerda implicou um compromisso com vista à presença de dois vogais da CDU nas assembleias de freguesia do Castelo e de Quinta do Conde, onde o PS tem maioria absoluta, e pela entrega de pelouros “com orçamento e que permitam um trabalho de qualidade”, adiantou ao “Setúbal na Rede” o líder da bancada da CDU, Augusto Pólvora. Contudo, garante que a parceria firmada entre as duas forças políticas “não irá, de modo nenhum, comprometer as críticas que possam surgir”, por parte da coligação de esquerda, à gestão socialista do município.

Na CDU, Augusto Pólvora fica a meio tempo e com o pelouro do Planeamento e Urbanismo, ao passo que Felícia Costa, a tempo inteiro, ficará responsável pelas áreas da Educação, Habitação, Saúde e Acção Social. No PS, Amadeu Penim detém os pelouros da Gestão Urbanística, Cultura, Desporto e Obras Municipais para a vila e freguesia do Castelo.

O segundo eleito socialista, Alberto Gameiro, fica com as Obras Municipais na freguesia de Quinta do Conde, os Esgotos e Saneamento, bem como a Higiene Urbana. Manuel José Pereira recebeu os pelouros das Finanças, dos Recursos Humanos e do Desenvolvimento Económico. 

Se entre socialistas e comunistas o processo de entrega de pelouros correu de forma pacífica, o mesmo não acontece com os eleitos do PSD que agora ‘torcem o nariz’ às funções que lhes foram delegadas. Embora não teça comentários aos pelouros propostos aos dois vereadores social democratas eleitos – a Protecção Civil e a Toponímia -, o líder da bancada ‘laranja’, Manuel Adelino admite alguma relutância em aceitar. Contudo, a decisão final será tomada na próxima semana, “depois de uma reunião” do PSD local, garantiu o autarca ao “Setúbal na Rede”.

Assessor com dobro do salário de um vereador

Entretanto a contratação do ex-vereador do PS, Cristovão Rodrigues, para o cargo de assessor de Amadeu Penim, está a provocar uma onda de contestação entre alguns militantes socialistas e junto dos partidos da oposição. Em causa está a remuneração de Cristovão Rodrigues, na ordem dos 5.500 euros mensais – 1102 contos – acordados para um período de quatro anos. Uma medida que o PSD não consegue digerir “pois cheira a tacho”, afirmou ao “Setúbal na Rede” Manuel Adelino ao recordar que Cristóvão Rodrigues chegou a assessor depois de ter falhado a sua reeleição em Dezembro.O presidente da Câmara já explicou que a verba tem em conta a qualidade do trabalho de Cristóvão Rodrigues e, por outro lado, pretende compensar o assessor pelo dinheiro que vai perder ao entrar de licença sem vencimento das suas funções na Caixa Geral de Depósitos. Mas a oposição não se convence de que o assessor de Amadeu Penim vai ganhar cerca do dobro do salário de um vereador e promete endurecer a contestação.

O comunista Augusto Pólvora admite ser “justa a indignação” em torno desta medida “por ser uma clara afronta à degradação dos salários da esmagadora maioria dos trabalhadores” e, para clarificar a posição da CDU, recorda que a decisão do presidente do município “não foi objecto de qualquer deliberação da Câmara ou de consulta aos eleitos da CDU”.

Por seu lado, os social democratas consideram longe de encerrada esta polémica, tendo já solicitado à Câmara a cópia do contrato entre a autarquia e o novo assessor de Amadeu Penim. Classificando a decisão de Penim como “uma grave falta de senso e responsabilidade na gestão do dinheiro da comunidade”, Manuel Adelino promete “desmascarar todo este processo” já na próxima semana.  seta-9157767