Os produtores e pastores directamente ligados ao queijo de Azeitão, estão preocupados com as consequências da redução das pastagens por força do avanço da construção.
São preocupações avançadas ao “Setúbal na Rede” a um dia do início da oitava edição do Festival do Queijo, Pão e Vinho, um certame realizado pelos industriais, produtores e ovelheiros de Quinta do Anjo, e em que um dos produtos tradicionais em destaque é precisamente o queijo de Azeitão.
A marca certificada, oriunda das zonas rurais de Azeitão, no concelho de Setúbal, e da freguesia de Quinta do Anjo, no concelho de Palmela, poderá ficar ameaçada a longo prazo, se o número de pastagens destinadas às ovelhas for reduzido, afirmou ao “Setúbal na Rede” José Adelino, da Comissão da Exposição/Concurso dos Ovinos de Raça Saloia, a entidade que trabalha em conjunto com a organização do Festival Queijo, Pão e Vinho, para a edição deste evento.
Na zona da Quinta do Anjo, onde as ovelhas beneficiam de pastagens únicas – resultado do micro clima da região – para a produção do queijo de Azeitão, “estão a ser construídas muitas urbanizações que podem colocar em risco a produção deste queijo”, afirma José Adelino. Os rebanhos “podem ficar com os territórios limitados para pastarem, uma vez que as zonas privadas, destinadas à construção de prédios, estão a aumentar cada vez mais”, acrescenta este responsável. Embora admita que, actualmente, se trata de um problema de pouca monta, vai, desde já, avisando que, a continuar este ritmo de crescimento urbano “a produção do queijo de Azeitão, pelo menos a longo prazo, pode estar ameaçada”.
Para tentar minimizar o problema, o técnico avança com a possibilidade de “incrementar as explorações estabelecidas”. Isto é, em vez que pastarem nas ruas, “as ovelhas têm locais ou pavilhões próprios para tal e não necessitam de ir para outros lados”. Uma opção que, de resto, tem vindo a ganhar mais adeptos, refere este responsável, ao adiantar que na Quinta do Anjo “há já criadores que estão a volta-se para este tipo de pasto”. Uma opção que não provoca a redução da qualidade do leite e do queijo certificado, “desde que as ovelhas sejam bem tratadas e bem alimentadas”, acrescenta.
O caso é do conhecimento da Câmara Municipal e da própria Junta de Freguesia, cujo presidente, Sérgio Almeida, diz estar “solidário” com a preocupação dos ovelheiros. Sérgio Almeida admite que as zonas de pastoreio “estão a diminuir”, contudo refere que o caso não é preocupante pois “isso não ocorre de forma dramática, como se quer fazer parecer”.
Sérgio Almeida não acredita que as ovelhas de raça saloia registadas naquela região esteja ameaçada, “e nem sequer a produção do queijo”. O autarca defende que Quinta do Anjo “ainda tem muitas zonas verdes e pastoreios” e que a construção de urbanizações tem um limite definido. “Pouco mais se poderá construir”, refere o autarca de freguesia ao acrescentar que o que o preocupa é a escassez de pastores.
“Cada vez há menos profissionais”, refere este responsável ao apontar que esta actividade tradicional é que está em vias de extinção, adiantando que “sem eles é que a produção do queijo ficaria bastante reduzida”. Uma das iniciativas mais marcantes da Câmara de Palmela, em conjunto com os profissionais deste sector, no sentido de revitalizar a actividade tradicional de produção de queijo e pastoreio é precisamente o Festival do Queijo, Pão e Vinho, que decorre entre amanhã e domingo, com a participação de dezenas de representantes do sector.
Do certame constam actividades como as provas de queijo de Azeitão, queijo seco e de vinho daquela freguesia, para além de encontros com ovelheiros, um concurso de manteiga de ovelha e de pão caseiro, demonstrações de tosquias e ordenhas e exposições de cães pastores.