• 21-05-2002 • |
AVISO À NAVEGAÇÃO |
O drama de “Os Verdes”
ou a ida à casa de banho
As instalações sanitárias do edifício da Câmara Municipal de Setúbal vão ter, em breve, uma importância nunca sonhada. Aquele local de descargas, onde todos nos baixamos para expelir o que de verdadeiro há dentro de nós, vai ter um peso vital e só a sua existência pode salvar a face de um dos Partidos da coligação PCP/Verdes/ID.
E evitar a cisão.
Não fiquem os leitores admirados mas é verdade. Não é por falar em WC que estou a nivelar por baixo as minhas palavras, mas há que dar aos locais a importância que eles verdadeiramente têm. E vou passar a explicar.
No dia 27 vai levar ao conhecimento público, no Fórum Municipal Luisa Todi, o projecto imobiliário de Vale da Rosa. Trata-se de uma área a cerca de cinco quilómetros de Setúbal onde o anterior Executivo designou por “Nova Setúbal”. O projecto, em que intervieram os anteriores Ministros da Agricultura e do Ambiente, prevê a construção de cerca de sete mil fogos bem como o Complexo Desportivo Municipal. Para este projecto o anterior Executivo socialista dispensou o promotor de pagar a sisa, licenças e mais-valias, prescindindo de cerca de dois milhões e duzentos mil contos (moeda que correu até ao fim do ano passado) a fim de que o promotor construa, ele próprio, o Complexo Desportivo.
Só que, para que tudo isto venha a ser realizado, há que destruir quase mil sobreiros, o que constitui um atentado ambiental, tendo em conta a importância dos montados para a economia do País. A Quercus, organização ecologista, já contestou o corte, prometendo agir junto da Comissão Europeia. E aqui reside a questão: qual será, na altura da votação, a posição do Partido Ecologista “Os Verdes”? Até agora não temos conhecimento de qualquer posição. No entanto, não queremos fazer a maldade de pensar que o vereador do Ambiente, na Câmara Municipal de Setúbal e que é dirigente de “Os Verdes”, vá votar favoravelmente. Que os outros autarcas da sua bancada o vão fazer, já se sabe. Aliás, nas Câmaras de maioria CDU criticam a política do betão mas depois são os primeiros a incentivá-la. Por isso, só vislumbramos uma estratégia para salvar a face de “Os Verdes” e não criar uma cisão na Coligação Democrática e Unitária. E qual é essa posição? Tão simples como isto: na altura da votação, o vereador do Ambiente levanta-se e… vai à casa de banho. Como não o vemos a votar a favor do abate dos sobreiros (!?) nem a votar contra, a fim de não criar problemas na bancada, só a saída para as instalações sanitárias pode criar condições para que tudo acabe em bem (para eles), ou seja, o projecto será aprovado e tudo continuará em bem.
Eis, por isso, a importância de um local a que ninguém reconhece utilidade: a casa de banho.
No entanto, e para que fique esclarecido, quero dizer que nada me move contra o promotor. Ele, como qualquer negociante, procura defender os seus interesses e tem esse direito. Agora, resta saber se as entidades a quem cabe defender os interesses públicos, estão a cumprir o seu papel. Que o grande gosto da anterior gestão autárquica por este projecto era grande, já se sabia. Com a actual gestão… parece-me que não há diferença.