• 30-07-2002 • |
ASSENTO PARLAMENTAR |
Setúbal rumo à maioridade
Os dois últimos actos eleitorais clarificaram a vontade de mudança dos portugueses. Entre um estilo paternalista e paralisante, que prometia afundar o país ainda mais, e um projecto pró-activo e reformador, catalisador de vontades e promotor do desenvolvimento económico e social, os cidadãos optaram de forma sensata.
É esta mesma assunção de maioridade intelectual, e de exercício livre de opção política que, algumas pessoas desfasadas da realidade teimam em não querer ver.
E por isso esgrimem como argumentos as dificuldades presentes, consequência directa da sua acção à frente dos destinos do Estado Português nos últimos seis anos.
É recorrente ouvir lamentar o estado de coisas a que chegámos, e diariamente surgem promessas de novas reivindicações. O que não existe nem se vislumbra são propostas e soluções.
Seis anos depois, estes senhores continuam a insistir em ser parte do problema. E o problema no distrito de Setúbal passa pela manutenção de um estado de espírito. Por uma atitude de quem vê sempre algures a fonte de medidas paliativas para as situações que não se enfrentam, apenas se adiam.
É aqui, no terreno, e com o empenho de todos, que se terá de encarar frontalmente os problemas, e procurar resolvê-los. E a procura e implementação de soluções deve ter em conta não apenas a sempre eterna reclamação de estruturas, mas acima de tudo a noção de que é com as pessoas e a partir das pessoas que se constroem novas oportunidades.
Setúbal não pode continuar a ser o distrito dos ciclos, com picos de prosperidade momentânea decorrentes do impacto de mega projectos de iniciativa estatal, a que se seguem despedimentos em massa, greves e instabilidade social.
O modelo da mono-indústria, e da falsa competitividade baseada em baixos salários, é um cenário que pretendemos afastar de vez.
É importante relevar o potencial da região: o turismo, o sector portuário e de logística, a fileira agro-florestal e outras oportunidades douradas, que são recorrentemente apontadas como o futuro deste distrito. Igualmente importante, e estratégico é apostar na qualificação das pessoas.
As pessoas, que alguns consideram um recurso, renovável ou não, mas que para nós são muito mais. É necessário que todas as medidas tenham o bem estar dos cidadãos como fim último. Caso contrário estaremos a contribuir para a manutenção e agravamento das injustiças sociais.
Aquilo que foi feito até à três meses atrás defraudou as expectativas de quem vive e trabalha na região, e adiou a realização de um projecto de cidadania plena, indo contra as mais elementares regras da gestão.
Nos últimos seis anos, assistiu-se à delapidação do mais importante activo do distrito de Setúbal.
O peso do sector público manteve-se. E em alguns sectores continuou-se a aposta no modelo económico que enfermava da baixa formação e qualificação dos trabalhadores. Nestes casos, algumas práticas laborais e de gestão menos apropriadas não se alteraram. As consequências estão à vista: falências e deslocalizações resultantes da baixa produtividade, baixa incorporação de valor e fraca competitividade de empresas tecnicamente obsoletas.
Paralelamente assistiu-se ao alargamento do número de vitimas de processos de gestão menos apropriados: uns impedidos de trabalhar devido a doenças profissionais, outros considerados obsoletos e tecnicamente irrecuperáveis aos cinquenta anos. Uns e outros destinados a engrossar as estatísticas de desemprego, que tanta satisfação parecem causar em certos sectores.
Perante a insustentabilidade deste modelo, compete a quem vive e trabalha no distrito lançar as fontes para o futuro. Contando com o apoio do Estado, mas partindo da iniciativa local.
Porque não bastam os grandes planos, estudos e documentos para criar riqueza e desenvolvimento social. É preciso operacionalizar. E esta operacionalização implica vontade, empenhamento e capacidade pessoal, dependente também das qualificações de cada um. Cabe a cada um de nós apostar na valorização pessoal e profissional, sem a qual não é possível a realização de um projecto de cidadania plena e bem estar social.
Acreditamos em nós, nas enormes potencialidades do distrito bem como na vontade de todas as pessoas, para se gerarem projectos concretos que promovam o desenvolvimento integral da região.