[ Dia 07-08-2002 ] – Nasceu mais um golfinho no estuário do Sado.

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Nasceu mais um golfinho no estuário do Sado

Nasceu ontem mais um golfinho na comunidade residente no estuário do Sado. Este jovem elemento tem agora à sua frente “uma dura batalha para conseguir sobreviver nos primeiros seis meses de vida”, afirma Pedro Narra, da empresa Vertigem Azul, que promove passeios de observação destes animais. A qualidade da água e o excesso de embarcações a circularem em zonas sensíveis, podem fazer com que esta cria possa vir a engrossar os números da mortalidade infantil nesta comunidade de golfinhos.

“É muito importante que as crias tenham o sossego necessário no estuário para se desenvolverem e os primeiros meses são cruciais”, afirma Pedro Narra. Desde 1998 que a taxa de mortalidade infantil nesta comunidade se mantém nos 50%, pelo que é difícil prever se este golfinho bebé vai ou não sobreviver, comenta o empresário. No entanto, “estes nascimentos trazem sempre uma grande alegria a quem todos os dias está no mar junto a estes animais”, acrescenta Pedro Narra.

O estuário do Sado tem “grandes problemas que, se não forem rapidamente resolvidos, podem pôr em risco a continuação desta espécie de mamíferos” ao largo da cidade de Setúbal, garante o empresário. O “excesso de embarcações” que, principalmente no Verão, percorrem o rio, “a falta de sensibilização das pessoas para a presença destes animais no local e a poluição” são os grandes problemas identificados por Pedro Narra, que afirma que, muitas vezes, é ele quem se aproxima dos veraneantes para os alertar de comportamentos menos correctos na condução dos barcos, em zonas de presença dos golfinhos.

Perante estes problemas, o observador de golfinhos não hesita em lançar duras críticas à gestão da Reserva Natural do Estuário do Sado, que é a responsável pela fiscalização da circulação destas embarcações de recreio no rio, e que “não se preocupa nem com a educação das pessoas”, lançando o alerta a quem conduz barcos ou motos de água “para que adeqúem a sua condução à presença dos golfinhos no estuário, nem fiscaliza os limites de velocidade impostos”. “Há vários meses que o barco da reserva não é visto no rio, o que significa um desinteresse total pela comunidade de golfinhos residentes”, refere.

Há alguns meses o acompanhamento feito aos roazes por uma bióloga marinha ao serviço da reserva, “foi interrompido sem razões aparentes” e neste momento não existe controlo dos animais, “uma situação grave, pois sem a observação constante destes animais não sabemos se têm problemas, se estão doentes, ou até se morreram”, adianta Pedro Narra.

A todos estes problemas junta-se o problema da qualidade da água. O empresário diz que “a água não é analisada e se existirem problemas graves de poluição, que ponham em risco a saúde dos golfinhos, não se sabe”. A análise periódica da água do estuário “é muito importante nesta zona, visto que é uma área com alguma actividade industrial e a monitorização da água do rio tem que ser feita”, acrescenta.

Celso Santos, director da Reserva Natural do Estuário do Sado, afirma que “está a ser desenvolvido um projecto que prevê a instalação de vários centros de recolha e análise da qualidade da água”, que permitirá monitorizar as condições do rio, com base em parâmetros de qualidade. Quanto ao problema da circulação de um número excessivo de barcos no estuário, Celso Santos afirma que está em curso uma campanha de sensibilização junto dos proprietários das embarcações, no sentido de os “alertar para os cuidados a terem quando cruzam as zonas onde os golfinhos podem estar”. seta-3205075