[ Dia 06-08-2002 ] – CRÓNICAS DA BEIRA MAR por Raul Oliveira.

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06-08-2002 

CRÓNICAS DA BEIRA MAR
por Raul Oliveira
(Jornalista)


O país das maravilhas

É uma maravilha viver num país em que todo o mundo faz da sua vida o melhor que pode, principalmente se puder evitar… pagar impostos.

Quando digo todo o mundo, não estou exagerando, basta saber que, tal como denunciou o jornal “Público” no passado dia 22, “o Cofre de Previdência dos Funcionários e Agentes do Estado, instituição com fins sociais, não apresenta declarações fiscais, nem paga IRC, IVA ou contribuição autárquica pelo menos desde 1999”.

Com que espírito o contribuinte vulgar de Lineu, entra numa repartição para pagar os seus impostos sabendo que a maioria dos seus concidadãos, e até os que deviam dar o exemplo, os Funcionários e Agentes do Estado, são relapsos quanto a essa obrigação?

O problema quanto a nós, é que o exemplo vem de cima, como se costuma dizer.

Passados dias, no mesmo jornal, surge outra notícia mirabolante, “a Administração Fiscal não controla se recebe o IRS”, isto porque não cruzando as informações, que obrigatoriamente devia controlar, permite que algumas empresas, tal como foi detectado em determinada empresa da área dos serviços, numa zona da capital, “retêm na fonte o IRS dos seus trabalhadores, mas não o entrega ao Estado, pelo menos desde 1996”.

Ainda não há muito tempo soubemos da intenção de dotar todas as escolas do país de computadores, (independentemente de terem outras “regalias”, como aquecimento, recintos para o recreio, ou mesmo instalações sanitárias condignas), para as criancinhas se irem familiarizando com as novas tecnologias, e muito bem.

Só que não dá para entender, como os “mais crescidos” ainda andam na “pedra lascada” da informática, e não conseguem aprender a “cortar as voltas” aos “experts” da vigarice e da falta de civismo, porque ao fim e ao cabo é do que se trata.

Pagarem uns impostos para outros se vangloriarem de furar o sistema, prejudicando duplamente os cumpridores.

Aliás a fuga aos impostos, para além de ser uma característica do português, dificilmente se inverterá tão peculiar sentido de “cidadania”, se nos lembrarmos que poucos ou nenhuns governos pós 25 de Abril, deixaram de incluir nos seus programas, dois “combates”, contra a fuga ao fisco e contra a corrupção, com os resultados conhecidos, igual a ZERO, porque qualquer dos “combates” bulia com “interesses”… muito fortes.

Houve até um primeiro-ministro, (não me atrevo a dizer de má memória), que teve a infeliz ideia de dizer, antes de ser primeiro-ministro, claro, “em Portugal só os parvos pagam impostos” (Guterres dixit), e sabe-se hoje como também ele perdeu o “combate”.

Tenho a impressão que não vale a pena pedir a protecção de santo nenhum, que nenhum estará disponível para nos valer. seta-8060598