“Setúbal nasceu dos recursos da baía, com a chegada de navegadores fenícios que em contacto com as populações indígenas vão para a Colina de Sta. Maria”, conta o arqueólogo Carlos Tavares da Silva ao “Setúbal na Rede”. Setúbal nasce essencialmente em resultado da exploração da baía através da pesca e principalmente do sal. A sua génese deu-se no fim do séc. VII e início do séc. VIII antes de Cristo, isto é, “da passagem da idade do Bronze para a idade do Ferro, sendo na altura uma cidade muito importante, virada para os recursos da baía”, como explica Carlos Tavares da Silva, adiantando que Setúbal surge nesta altura como o centro das conservas de peixe. “Setúbal era então o centro industrial de conserva mais importante do mundo romano ocidental”, garante.
Nesta altura haviam também indústrias ligadas à “produção das ânforas, que eram exportadas com salga de peixe para outros portos do Império Romano”, representando assim a baía “um papel fulcral”, conta o arqueólogo. “A construção dos santuários e as plantações florestais para a concepção das ânforas” foram outras industrializações da altura, explica Fernando Batista Pereira, director Museu Municipal de Setúbal, adiantando que foi também por esta altura que começaram a aparecer “as comunidades piscatórias”.
“A cidade começa em decadência na alta Idade Média”, explica Carlos Tavares da Silva, mas no final da Idade Média instala-se na região a ordem de Santiago, conta Fernando Batista Pereira, e aí começa “uma grande produção de sal”. O mesmo responsável revela ainda que “em 1249 foi atribuído o primeiro foral aos habitantes e nesse momento começa-se a perceber que pelo porto de Setúbal podiam entrar e sair muitos bens e que poderia vir a ser uma grande fonte de rendimentos”, conta o director do museu municipal.
E já “no séc. XVI Setúbal era o maior explorador de sal do país”, refere Carlos Tavares da Sliva, revelando que “nessa altura o sal começa a ser utilizado como moeda de troca, no período filipino, nas relações entre os políticos dos países baixos”.
Todo este movimento económico baseado na baía vai até ao séc. XIX, altura em que surgem as conservas actuais e mais uma vez Setúbal “renasce” com base na baía. “Nos anos vinte começam a instalar-se na cidade produtoras da conserva de peixe”, revela o arqueólogo. Hoje em dia, de acordo com Carlos Tavares da Silva, “a baía desenvolve mais as actividades portuárias”.
Segundo Fernando Batista Pereira, as fábricas que se instalaram na região vieram criar um “problema entre o desenvolvimento e a preservação das espécies e da Arrábida” que este responsável gostaria de ver “como Património Mundial”, mas refere que “sem a saída da Secil, dificilmente a Serra da Arrábida terá essa condecoração”.
O arqueólogo Carlos Tavares da Silva disse ainda ao “Setúbal na Rede” que concorda que “tem que haver um desenvolvimento na baía, mas de uma forma sustentada” e defende que “os elementos endógenos deveriam ser verdadeiramente explorados”. Elementos que se ligam directamente “à conservação de paisagens e belezas naturais de todo o estuário do Sado, que tem início na Arrábida e termina quase na Mitrena”, afirma Carlos Tavares da Silva.
Também Fernando Batista Pereira concorda que tem que ser feito um desenvolvimento sustentado entre várias entidades, como é o caso “da autarquia, do Ministério do Ambiente, do porto de Setúbal e das entidades privadas”. Sem este desenvolvimento sustentado, diz o director do museu, será “difícil manter o estatuto de Baía Mais Bela do Mundo”.
O mesmo responsável adiantou ainda que todas as cidades que foram consideradas Património Mundial aumentaram o seu número de visitantes e que “se Setúbal conseguir aliar à condecoração da Baía Mais Bela do Mundo com a entrada da Serra da Arrábida para Património Mundial, Setúbal passa a ter a ‘galinha dos ovos de ouro’”. Para este responsável, a entrada para as Baías Mais Belas do Mundo vai trazer “muitas receitas e dinamismo económico”. Apesar disso, Fernando Batista Pereira afirma que é necessário criar formas de conseguir manter os visitantes na cidade, e dá como exemplo “a obra do Convento de Jesus, quer pela qualidade do projecto quer pela sua importância enquanto museu”.