[ Dia 12-02-2003 ] – ASSENTO PARLAMENTAR por Valdemar Santos.

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12-02-2003 

ASSENTO PARLAMENTAR
por Valdemar Santos
(Membro da Direcção da Organização Regional
de Setúbal do Partido Comunista Português)



Um promotor sem cálculo Tivemos já oportunidade de recomendar que não haja espanto quanto ao leque de personalidades que agora (e ainda bem) fazem voz grossa contra as pretensões de Bush, indignados entre outras coisas com o que o Conselheiro do presidente norte-americano Richard Porrio declarou no findar de 2002, em pleno Parlamento britânico: “…mesmo que os inspectores da ONU não encontrem armas, os Estados Unidos atacarão o Iraque!”.

Na panóplia de sensibilidades que percorre um espectro desde Freitas do Amaral a Mário Soares, é particularmente encantador observar este último, a implicitamente admoestar o Secretário-Geral do PS (Ferro Rodrigues), e mesmo a confessar da sua intenção de recorrer ao presidente do mesmo (Almeida Santos), no sentido de tudo fazer para que o Partido Socialista adira à manifestação pela paz, contra a guerra no Iraque, que tem lugar no dia 15 de Fevereiro, em Lisboa, e que no quadro das acções que percorrem toda a Europa e o mundo, é no nosso país convocada, por mais de uma centena de organizações, em torno do CPPC (Conselho Português para a Paz e a Cooperação).

O notável alinhamento de posições contra o imperialismo norte-americano e seus correligionários, onde se anotam mudanças de atitude de ‘sentido’ positivo, faz-nos recordar o comentário de Carlos Carvalhas, Secretário-Geral do PCP, em Novembro passado, num almoço convívio do Partido em sarilhos Pequenos, quando os pobres magnatas do nosso país se dirigiram a Sampaio, colocando-lhe as suas preocupações, por o essencial das alavancas da capacidade de decisão nacional, correrem mais do que nunca, os riscos de caírem em mãos estrangeiras: “Mas não é isso que andamos a dizer há muito tempo?” – perguntava ele, seriamente.

É verdade, que antes de condenar Bush já vimos Soares a condenar Clinton e os Estados Unidos, como “polícias do mundo”, acerca da guerra na Jugoslávia, perpetrada pela NATO, e com inusitados efeitos que abalaram e continuarão a abalar a mais íntima mudez de muitos lares portugueses, na razão directa da sua opinião, de que não vale a pena votar na Esquerda, se esta faz (como faz, com a marca de classe, reza a história, da generalidade dos Governos socialistas da Europa), uma política de direita! (entrevista À TSF, citada no “Público” de 3 de Março de 2002). Mas não foi ele próprio, elevado então na mais alta instância do Estado português, que cedo augurou na eleição do jovem presidente dos EUA, a emergência de uma nova e pragmática classe política universal, desprendida da lógica dos blocos antagónicos e aliviada das coerções da guerra fria, procurando assim simular, sem recurso, uma das mais descaradas operações ‘mãos limpas’ de carácter ideológico, que pretende exponênciar como a receita ad eternum, para o fim dos conflitos, as pseudo-virtudes da ‘globalização’ capitalista, a qual, ao fim e ao cabo, deu a benção aos primeiros bombardeamentos em Belgrado?

Pela parte do PCP, mantém-se a denúncia das “gravíssimas consequências que a agressão dos Estados Unidos contra o Iraque, trazem para martirizados povos iraquiano e palestiniano e para os povos de todo o mundo”, a par da consideração de que “os verdadeiros objectivos que a administração Bush se propõe alcançar, com a psicose militarista, e a escalada agressiva em que está empenhada, são a pilhagem e controlo de importantes reservas petrolíferas, o domínio de uma região de enorme importância estratégica, a hegemonia totalitária nas relações internacionais, um escape para a crise económica e financeira dos Estados Unidos” (Comunicado do Comité Central de 9 de Fevereiro). E por isso mantém que “o alinhamento de Durão Barroso com Berlusconi, Blair, Aznar e outros, na chamada Declaração dos 8, envergonha os portugueses e merece a sua mais firme condenação”.

Promotor sem cálculo da manifestação do dia 15, o PCP é o garante de que uns, mais do que outros, pensaram e pensam e escreveram e escrevem sempre da mesma maneira, coerentemente. 

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