• 27-05-2003 • |
ENTRE LINHAS |
Pedo e outras Filias
Não há dúvida que um escândalo como este vende jornais a valer. É uma espécie de telenovela da vida real, com crime, sexo, boato, suspeita, famosos, manipulação e os restantes ingredientes do costume.
O país, que já caminhava pelas ruas do boato e da suspeita, passou há dias ao estado de choque puro e duro, com a recente prisão do deputado e ex-ministro Paulo Pedroso, e da intimação do humorista Herman José para depor no mediático processo Casa Pia.
Agora que a primeira figura política se vê envolvida no caso, a respectiva classe agita-se, desconfortavelmente.
Uns acham que os cidadãos são todos iguais, e que mais prisão preventiva ou menos prisão preventiva não deve deixar ninguém sem dormir. Só que, quando se trata de figuras públicas e não simples anónimos, para quem a imagem é fundamental à sua intervenção na sociedade, as coisas são um pouco diferentes. Não se trata de uma questão de discriminação entre cidadãos, que são e devem ser iguais perante a lei, mas sim do mais razoável bom senso.
É claro que se um qualquer cidadão comum ficar em prisão preventiva, vindo depois a ser libertado e ilibado, terá os seus prejuízos, de vária ordem, mas é preciso ser cego para não entender que no caso de uma figura pública as coisas assumem uma dimensão muito mais penalizadora, podendo até, muito provavelmente, destruir a sua carreira e forma de vida, sem apelo nem agravo.
Espera-se então que a mais gravosa medida de coacção, a prisão preventiva, não seja aplicada aos notáveis e a quem desfruta de visibilidade pública? De modo nenhum. Apenas não pode ser aplicada de ânimo leve, sem indícios sólidos, consistentes em si mesmos e inatacáveis do ponto de vista processual. Dois dias após a prisão do deputado socialista começavam a levantar-se dúvidas sobre a correcção dos métodos de investigação aplicados, e a possível declaração da sua nulidade.
Paulo Pedroso sairá deste episódio como um herói, apenas no caso de ser ilibado nos próximos dias ou semanas. E sairá como vilão, se as coisas demorarem muito tempo a resolver ou caso venha a ser condenado em tribunal.
Mas mesmo como herói, o labéu da suspeita pairará para sempre sobre a sua cabeça, qual espada de Dâmocles, presa por um fio, pois ficará sempre a suspeição de que terá saído em liberdade devido às pressões exercidas sobre a justiça, por parte de uma classe política incomodada com a situação presente.
Vai ser preso por ter cão e preso por não ter. E é pena, dada a sua idade e as potencialidades de que já deu provas.
Mas, e ainda a propósito de pedofilia (que por acaso rima com hipocrisia), será que ninguém sabe em que zona de Lisboa, e não só, rapazes menores deste país vendem o seu corpo? Será que nem a polícia nem os tribunais sabem que aí aonde acorrem cidadãos comuns e figuras públicas bem conhecidas todas as noites, com o bolso recheado com um molho de notas generosas para pagar uns momentos de prazer doentio? Ou só as crianças da Casa Pia interessam?
A isso, além de prostituição, chama-se o quê?