[ Dia 22-09-2003 ] -Mónica Frassoni defende mudanças na política de pescas da UE.

0
Rate this post

Mónica Frassoni defende mudanças na política de pescas da UE

Mónica Frassoni, presidente do Gupo Verde no Parlamento Europeu, afirma que “o grande problema do sector das pescas na UE é a não existência de uma verdadeira política de pesca”. A declaração foi proferida num encontro com representantes de cooperativas e sindicatos do sector, que decorreu em Setúbal no passado dia 19. Os pescadores portugueses estão preocupados com a possibilidade de aprovação, no próximo dia 29, da proposta da Comissão Europeia, que prevê a liberalização do acesso de frotas pesqueiras europeias, à área entre as 12 e as 200 milhas da Zona Económica Exclusiva portuguesa.

Para a eurodeputada, Mónica Frassoni, o que existe na União Europeia é apenas uma situação institucional, “onde o que pesa são as forças de cada Governo”, o que faz com que a decisão do dia 29 de Setembro seja “um jogo de Estados”. A eurodeputada considera que “enquanto não mudarem os critérios da política de pesca, as forças de mercado continuarão a ganhar”. Neste caso, como “Espanha é mais forte que Portugal”, refere Mónica Frassoni, “são os pescadores portugueses que ficam a perder”. De acordo com as associações do sector, a concretização do livre acesso de outros países à ZEE portuguesa, poderá significar “a morte anunciada da pesca no país”.

“Se a proposta da Comissão Europeia for aprovada no Conselho de Ministros da UE a 29 de Setembro, será o fim da pesca em Portugal”, afirma Ricardo Santos presidente da Cooperativa de Pesca de Sesimbra, Sines e Setúbal – Sesibal -, pois considera que “não há ecossistema que suporte o método de pesca que Espanha utiliza”. Ricardo Santos refere ainda que, após o enorme esforço do Estado português para colocar em prática medidas de conservação das espécies, “a ocupação da ZEE pela frota Espanhola poderá inviabilizar tudo o que foi feito até agora”, com a agravante de trazer “efeitos devastadores para os recursos pesqueiros portugueses”.  

O presidente da Sesibal acredita que, devido à falta de fiscalização da costa portuguesa por parte das autoridades competentes, “Espanha vai capturar a seu belo prazer”, e garante que, “se a proposta for aprovada, os pescadores portugueses estão dispostos a lutar, podendo não aceitar o pescado vindo de Espanha”. De acordo com Ricardo Santos, uma situação que comprova os efeitos negativos dessa medida, é o facto de o Ministro da Agricultura e das Pescas, Sevinate Pinto, ter admitido a possibilidade de se demitir, caso Portugal não adopte uma posição firme para impedir que os espanhóis tenham acesso à costa portuguesa.

José Marques, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Sul, considera que a liberalização da ZEE às frotas europeias não é uma medida socialmente suportável para o país, para os pescadores e armadores”, e que “a melhor opção é manter o regime que está em vigor”. Afirma também que, nas discussões acerca desta questão, “deve-se ter em conta a participação dos pescadores, cooperativas e sindicatos de pesca, pois são eles que melhor conhecem o sector”.

O Partido Ecologista “Os Verdes” considera que o grande motivo de revolta dos pescadores portugueses é o facto de sempre terem respeitado as regras e os limites fixados, “e existir uma instância comunitária que poderá deitar por terra todas essas limitações”. De acordo com a deputada Heloísa Apolónia, Espanha já “delapidou os seus recursos, através da pilhagem e agressividade que lhe são características”, e agora quer “fazer o mesmo em águas portuguesas”. A deputada afirma que a proposta de abertura da ZEE “vai contra o que se possa entender por boa gestão dos recursos marinhos”. “As políticas comunitárias não podem ser definidas tendo em conta as pressões e os interesses de cada país”, refere.

Recorde-se que a Câmara Municipal de Setúbal também já se manifestou contra a abertura da ZEE portuguesa aos países da EU, em especial Espanha, França e Itália, tendo aprovado, no passado dia 3 de Setembro, uma moção onde apela ao Governo português para “defender intransigentemente os interesses dos pescadores portugueses”. Tendo em conta que este sector de actividade “tem em Setúbal um importante peso económico e social”, a câmara apela ainda à União Europeia para que desenvolva esforços no sentido de garantir a “preservação das espécies e as condições da sua reprodução futura”seta-8961933