[ Dia 25-09-2003 ] – Crónica de Opinião por João Titta Maurício

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CRÓNICA DE OPINIÃO
por João Titta Maurício
(Vice-Presidente da Distrital de Setúbal do CDS-PP)
 

Ídolos

A minha geração foi a primeira que, em Portugal, foi verdadeiramente influenciada pela televisão. Serve esta introdução apenas para confessar (e justificar!) a minha dependência perante a “caixa que mudou o Mundo”. Como todos os “profissionais deste vício”, faço zapping e, por vezes, a minha atenção por vezes é capturada por programas que não planeio assistir. Foi o que aconteceu.

O programa chama-se “Ídolos”. Os reality shows não fazem parte dos meus programas preferidos. Porém, reconheço, são tecnicamente bem feitos e cumprem os seus objectivos. Pelos spots de publicidade emitidos pela estação conhecia o conteúdo e objectivos. Decorria uma selecção de candidatos à segunda fase. Concentrados, determinados e confiantes, eles candidataram-se, acreditaram e já viam a luz ao fundo do túnel da concretização do seu sonho. Entravam, natural nervosismo, movimentos corporais descoordenados, vozes desafinadas pelo tremor. Uns “davam-a-volta-por-cima”: recuperavam o controle das cordas vocais e obtinham o direito a passar. Outros não ultrapassavam o medo e eram inapelavelmente “reprovados”. Desfeitas as ilusões de serem objecto de idolatria, eram naturais o choque, o desânimo, o choro convulsivo. Todavia, alguns dos “chumbados” excederam-se: reagiram de modo violento! E concluíram: eles não tinham falhado, o júri é que não os soube avaliar.

(Vieram-me à memória as imagens dos estudantes que, de rabo ao léu, bradavam “Não pagamos!” e que, terminada a manifestação, em bandos, dirigiam-se a um qualquer bar ou discoteca da moda e, numa só noite, “torravam” o equivalente a duas propinas anuais.)

Não quero abordar a justiça ou injustiça da avaliação, antes reflectir sobre as razões que subjazem à violenta reacção perante o desenganador juízo que fizeram sobre as suas performances. É minha convicção que estas explosões de sentimentos são consequência das desilusões provocadas pela crença na proposta de vida hoje dominante na nossa sociedade: só tem valor quem é bem sucedido e só é bem sucedido quando o mérito é mediaticamente conhecido… mesmo que num métier pouco relevante para a humanidade e que o produto do seu labor (quando o há) pouco contribua para uma melhor vida (assisti ainda há pouco a uma “pouco usual” manifestação “cultural”: o artista interpretava música usando de particulares dotes de flatulência… muito “cultural”, muito “elevado”, muito “candidatável a um subsídio”…). Vende-se a ilusão do sucesso com glamour ao alcance de todos. A coberto da criação de condições que proporcionem uma igualdade de oportunidades, a origem e o palco onde essa “treta” tem o seu esplendor é a escola. Esta foi (propositadamente) desprovida da busca do conhecimento, os alunos foram (erradamente) forçados a esconder os seus méritos e os professores com verdadeira vocação (desgraçadamente) vivem em pé-de-igualdade com mercenários especialistas na aplicação dos artigos que, pelos motivos mais imaginativos, justificam faltas.

Os senhores destas “das inovações” estão acoitados na 5 de Outubro. Deserdados do socialismo científico, são fautores do pior que aconteceu a Portugal. Defensores e produtores da escola como laboratório de experiências, ambicionam encontrar a fórmula que permita modificar a natureza humana. Para tanto, manipulam a escola, afastam os pais do processo educativo «trabalhem! Nós não só forneceremos a instrução aos vossos filhos: cuidaremos também da educação!»). Tornaram alunos e professores vítimas indefesas do seu totalitarismo educacional (que escudam atrás dum suposto “cientismo”)… Querem o Homem Novo! Apenas alcançam o mundo novo: anódino, amorfo, banal. A igualdade que buscam resultou na “rasquice”, na ausência de conhecimentos, no insucesso (travestido de passagem administrativa numa escola que já prima pelo “facilitismo” em forma de remoção do trabalho e do esforço na aprendizagem – e, por isso, impedindo o mérito). Para eles a escola não é para aprender: é para conviver! Nela não há lugar ao trabalho: antes a socialização. Os resultados não se alcançam pelo esforço: merecem-se… porque sim!!! E se nada souberem fazer (ainda que o maior problema seja nada quererem fazer), calma: sempre há uma solução! O papá Estado dar-vos-à uma mesada!

Olhando à nossa volta, observamos aquilo que nos rodeia, procuramos entender. Mas vivemos num mundo baseado em ilusões geradas pela propaganda. O que julgamos ver não é o que existe: apenas vislumbramos uma imagem, distorcida por óculos que, deturpando, escondem e mascaram a Realidade. A propaganda do séc. XX criou mitos, procurou destruir consciências, visou, julgando poder matar Deus, criar um Homem Novo! Angustiadas mentes, que acharam ser possível eliminar a dos Homens, a sua Crença num Deus criador de todas as coisas. Alucinadas mentes que pretenderam aniquilar a diversidade que existe em todos os Homens. Doentias mentes que acreditavam ser possível criar um Mundo onde a vontade de um só Homem substituísse o Livre Arbítrio, a Livre Escolha que Deus concedeu a todos os Homens. Perversas mentes que, manipulando, destruindo, matando procuraram eliminar todos os fossem diferentes, seja por pertencerem a uma raça ou a uma classe social.

Esta foi a grande mentira do séc. XX. Os seus dois filhos, o Comunismo e o Nazismo. Dois grandes e monstruosos projectos, gémeos na origem. Ambos anti-cristãos e paganizadores, negaram a Deus, rejeitaram a Tradição, procuraram a criação de um Novo Mundo e apostaram na emergência de um Homem Novo. Um procurou manipular o corpo, enquanto outro se dedicava o trucidar a mente! Porém, ficou a alma: graças a Deus, falharam!

Não obstante, ficaram as sementes. Estas causam nos Homens a Indolência (própria das crianças, que acreditam que os pais tudo podem e que tudo farão para os protegerem) e o Egoísmo (levando os Homens a acreditar que tudo lhes é devido e que nada lhes é exigido e que nada lhes pode ser proibido pela mera circunstância de existirem).

Lutar contra a realidade é atacar moinhos de vento que são indestrutíveis. A desigualdade existe e não pode nem deve ser eliminada. Em primeiro lugar, porque a igualdade é inatingível. E se cada um de nós aceitar descobrir-se de pré-conceitos resultantes da nossa condição económica sabe que assim é: cada um de nós (com as suas capacidades – inatas ou adquiridas) busca na vida atingir o mais alto patamar que nos for dado alcançar… e lá se manter! Negar isto é não conhecer a natureza humana (numa das suas facetas mais marcantes). Combater esta realidade é pretender condenar a Humanidade à inacção e à estagnação!

Em segundo lugar, porque a desigualdade é natural. Porque a diferença é natural. E essas diferenças resultam em capacidades diferentes de produzir resultados diferentes. Mesmo insuspeitos autores como John Rawls sabia que a “lotaria genética” é um importante factor que impossibilita o alcançar da igualdade.

E o mesmo é válido para a sociedade em geral e para a escola em particular. Se na 5 de Outubro não fazem nada para pôr cobro ao experimentalismo totalitário dos senhores das “Ciências da Educação”, das duas uma: ou o responsável concorda e é de esquerda; ou não concorda e deve procurar umas termas para a cura da tibieza… e, como é incurável, que fique por lá e se dedique à pesca! O país precisa de ser governe com ideias claras, por quem saiba o que quer e, com vigor, questione as “balelas” da esquerda (que se julga) bem-pensante. Senão, não haverá diferença entre um governo de esquerda e de direita… Bom haver há: a esquerda é como aquelas crianças atrevidas que sempre vão tentando, tentando, até que nos apanham distraídos e então fazem as maluquices que sempre tiveram “na telha”. A direita… envergonhada, bem comportada, chega ao poder, mira à volta, encolhe os ombros e arruma a casa. Jamais a arruma “como deve-ser”: em vez de dar uma arejada geral, limita-se a colocar as coisas no lugar em que estavam antes da esquerda as desarrumar… e não onde devem estar!

É preciso que o Ser Humano se recorde: a vida vive-se, viver custa e, no fim, o que fizemos, fazemos e fizermos do nosso mundo, o principal responsável é sempre o próprio Homem. E, se queremos viver num Mundo melhor, só nos resta “arregaçar-as-mangas”, dar graças a Deus e… trabalhar!

Sempre assim foi e sempre assim será!

Pois é essa a ordem natural das coisas!

E o resto são cantigas… seta-2982122