[ Dia 21-10-2003 ] -Dia da ESE marcado por protesto estudantil .

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Dia da ESE marcado por protesto estudantil

A sessão solene de abertura do ano lectivo na Escola Superior de Educação (ESE) de Setúbal ficou hoje marcada pelos protestos dos estudantes, em dia de greve nacional contra o aumento das propinas. Alguns alunos da Escola Superior de Tecnologia (EST) e da Escola Superior de Ciências Empresariais (ESCE) chegaram a invadir o anfiteatro onde decorreu a cerimónia, gritando várias palavras de ordem.

A ESE comemorou hoje a abertura oficial do ano lectivo, numa cerimónia que contou com a presença do arquitecto Siza Vieira e do Conservador do Museu de Setúbal, Fernando António Baptista Pereira, a que se seguiu a inauguração da exposição, integrada nos 18 anos da Escola, denominada “ESE – 18 anos – Percursos de uma Escola”.

As primeiras intervenções decorreram normalmente, sem quaisquer incidentes, apesar do protesto dos estudantes que, do lado de fora, manifestavam o seu descontentamento face ao aumento para 700 euros do valor das propinas.

A primeira palavra coube à presidente do Conselho Directivo da ESE, Albertina Palma, que reconheceu que o Ensino Superior, em Portugal, está a atravessar “tempos difíceis”, o que obrigou a escola a adoptar uma “medida impopular”, que não é bem aceite pelos alunos. Albertina Palma admite que “as propinas não devem servir para cobrir as despesas de funcionamento da escola”, mas adianta que “as instituições são encostadas à parede pelo Governo, que diminuiu os orçamentos”. Para a presidente do Conselho Directivo da ESE, a luta dos estudantes deveria ser feita junto do Ministério da Ciência e do Ensino Superior. De qualquer modo, garantiu que o Conselho Directivo está empenhado em “desenvolver todos os esforços para, no próximo ano, obter outras fontes de receita”.

Para a presidente da Associação de Estudantes da ESE, Diana António, a comemoração dos 18 anos da escola fica “ensombrada pela aprovação da nova lei de financiamento do Ensino Superior”, que representa um “retrocesso educativo”. Os estudantes da ESE estiveram durante toda a noite numa vigília no recinto da escola, onde foram montadas 30 tendas, para cerca de 100 pessoas. Diana António considera que a adesão foi ”superior às expectativas”, porque está em causa a luta por uma “lei injusta”.

A presidente do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), Cristina Figueira, não fez muitos comentários sobre o protesto dos estudantes, realçando apenas que, por vezes, os órgãos de gestão das escolas têm de tomar “decisões difíceis, que não são bem aceites por todos”, para fazer face às contrariedades, como foi a diminuição em 4,3% do orçamento governamental. 

A sessão foi subitamente interrompida pelos protestos de alguns estudantes, que invadiram o anfiteatro, antes das intervenções de Siza Vieira e de Fernando Baptista Pereira, e que voltaram a gritar a célebre frase “Não pagamos”. O protesto mereceu as críticas da presidente do Conselho Directivo da ESE, que reprovou o comportamento dos estudantes, numa altura em que se preparava para discursar o arquitecto Siza Vieira.

O arquitecto que projectou o edifício da ESE, falou sobre as dificuldades sentidas há 18 anos atrás, durante a construção da escola, e realçou que a grande aposta do seu projecto foi para os espaços de convívio para os estudantes, que considera dos “mais importantes para a vida de uma escola”. Siza Vieira demonstrou “grande satisfação” pelo facto de a escola não estar degradada, e ser alvo de muitos cuidados e manutenção, que permitem assegurar a continuação de um bom funcionamento. O arquitecto regozija-se também pelo facto de, apesar do número de alunos ter vindo a aumentar, a escola manter grande flexibilidade para dar resposta a esse crescimento.

Relativamente às críticas apontadas às más condições acústicas do edifício, Siza Vieira afirma que, na altura, não existiam muito técnicos especializados nessa matéria, mas, adianta que, se hoje pudesse fazer alterações, “a melhoria da acústica seria uma delas”, até porque uma boa acústica vai ao encontro de a sua grande aposta no convívio e comunicação.

O Conservador do Museu de Setúbal elogiou o trabalho de Siza Vieira, realçando o facto de a ESE ter sido a primeira escola a ser projectada por este arquitecto e que lhe valeu a atribuição do Prémio Nacional de Arquitectura. “Siza Vieira não desenvolveu outra obra que desencadeasse uma tão grande onda de afectos”, referiu Fernando Baptista Pereira, que elogiou ainda o “constante empenho em festejar a obra de Siza”. Fernando António manifestou-se ainda “solidário com a luta dos estudantes”, que também “deve ser a luta dos professores e dos órgãos de gestão, com vista à dignificação do ensino”seta-3870427