CARTAS DE MAREAR
por Mendes Ferreira
(Ortopedista e Médico do Trabalho)
Voando sobre ninhos de “cucos”
Dizer que a vida política e social é hoje em Portugal um pântano é dizer uma banalidade, uma verdade “Lapalissiana”. Os políticos deste País com um autismo inacreditável, vivem em planos etéreos, onde a realidade palpável só incomoda e as pessoas que deveriam representar apenas são um impecilho. Têm voz, exigem cumprimento da promessa, tem opinião!…
Exemplos do Estado da Nação parece não serem necessário dá-los, fraseando o celebre anúncio diríamos: “Exemplos para quê?”
Nada pior para as evidencias do que a comparação com a pobreza dar palavras por mais eloquentes que sejam.
E a esta incompetência/alienação não escapa Maioria e Oposição. Os primeiros entrincheirados atrás de uma oposição completamente desorientada põem, uma mascarilha para não serem reconhecidos atrás de um fracasso de recuperação de que este orçamento geral do Estado é o paradigma.
E para esconder que sem rebuço exploram miseravelmente o cidadão imponde-lhe aumentos que fariam corar de vergonha qualquer Zé do Telhado. O aumento brutal das propinas e o aumento inacreditável dos valores a pagas sobre o Património privado são exemplos dados por quem cinicamente entende que dois por centro é o aumento decente a dar aos funcionários públicos.
Esta maioria ao apresentar este O.G.E. demonstra uma incapacidade real e concreta em dar o grande salto em frente preparando-se apenas para a bem conhecida “chicoespertice” de guardar para as eleições o ano das vacas gordas.
Mas em democracia, pior que um governo governar mal é a Oposição não ser credível.
A Oposição é sempre a Esperança – a alternativa.
Quando à conjunção negativa maioria medíocre oposição não credível se junta a degradação do funcionamento de Instituições, e da Ética se faz tábua rasa eu direi que está constituída o que eu considero uma Tríade Infeliz.
E infeliz porque concede ao cidadão uma sensação de frustração, de impossibilidade de ultrapassar o grande polvo, que o trucida-o com os seus inúmeros e poderosos tentáculos.
E sente-se infeliz e incapaz. E pensa que se na Ditadura podendo erguer, a sua voz, só de quatro em quatro anos serve para escolher, não o melhor, mas quissá o que é o menos mau, ou ainda o menos péssimo…
E sente-se também enxovalhado quando vê que a Casa Maior da Democracia que é o Parlamento é transformada em mera casa de eventos, para celebração de gestão privada. E ingenuamente pergunta-se se amanhã também pode usar esse espaço para as suas festas:
Fica porem na dúvida se os palhaços terão que os contratar à parte ou já tão fornecidos pela Casa…
Não sou dos que acredita na tese de que se vive numa crise essencial de valores humanos de “inteligenza”, de pessoas de bem. Elas felizmente existem; uns emigram, outros andam por aí, tratando das suas vidas e pouco interessados na “Coisa Pública” que não constitui para eles neste momento qualquer tipo de aliciante.
Estão deliberadamente “out” apenas e só porque é gente “inn”. Cabe-nos a todos nós criar-lhas motivo de interesse e propiciar o seu regresso.
Podia terminar agora de duas maneiras:
Uma, que não utilizarei, porque não é o meu estilo referindo-me ao “Statto Quo” citar Ferro Rodrigues “Estes gajos são uns merdas” utilizo antes a outra que é que perfilho; é dizer-vos que outros tempos virão.
Iremos correr com os medíocres, com os vampiros, com os chupistas, com os que comem tudo, com os que querem fazer de nós marionetas, com os que consideram acima da lei e da justiça, contra os que não consideram macacos com números de contribuinte ou os bobos da corte, contra todos os que não mereçam representar-nos.
Vamos correr com eles! Tenho a certeza.
E não é necessário “à canelada”. Só usa o pontapé quem não tem nada dentro da cabeça.