Director do TAS reivindica
a construção de uma sede para a companhia
O director do Teatro Animação de Setúbal (TAS), Duarte Victor, exige a construção de uma sede própria para a companhia. Duarte Victor reclama assim “uma promessa feita pelo actual executivo municipal, logo no início do mandato”. A construção deste espaço é “essencial para a evolução e mesmo para a continuidade do TAS”.
O TAS estreia amanhã a peça “O Rapaz de Bronze”, adaptada de um conto infantil de Sophia de Mello Breyner. A estreia da 93.ª produção da companhia surge mais uma vez sob o signo das dificuldades. Duarte Victor refere mesmo que a concretização da peça só foi possível graças ao “sacrifício dos actores” que, mesmo com salários em atraso, “continuam a trabalhar com grande empenho”. Por pagar estão ainda o subsídio de Natal e o ordenado referente ao mês de Janeiro.
A “agravar” as dificuldades financeiras por que já passa a companhia, está o facto de o TAS “não ter uma sede própria para trabalhar” e para realizar os seus espectáculos. Nesse sentido, Duarte Victor reclama a “necessidade da autarquia cumprir uma promessa feita ao TAS logo no início do mandato”. Trata-se da construção de um novo auditório, no concelho, que, não só sirva de sede para a companhia, mas que “também possa receber espectáculos de palco de grande dimensão”. Para este responsável, a cidade e o TAS “já mereciam um espaço assim”.
Numa das primeiras conversas que manteve com os responsáveis do TAS, o presidente da Câmara de Setúbal, Carlos de Sousa, terá prometido “estudar a possibilidade da construção de instalações próprias para a companhia”. Duarte Victor entende que, passados dois anos de mandato, “está na altura de a câmara dar uma resposta a esta questão”, por isso espera poder reunir em breve com a autarquia.
O Teatro de Bolso “não reúne as condições necessárias para a realização de espectáculos” e foi mesmo interditado pelo tribunal. Em causa estão sobretudo as condições acústicas, daí que “a Câmara de Setúbal se tenha comprometido em realizar obras de insonorização naquele espaço”. No entanto, até agora “nada foi feito”, o que pode comprometer a realização de uma peça que o TAS pretende estrear naquele espaço.
Trata-se de “O Fim de Festa”, uma peça de Samuel Beckett, considerado o maior dramaturgo do século XX. Este espectáculo reveste-se de uma importância maior pelo facto de ser “a primeira vez que Beckett é levado à cena num palco setubalense”. Dai ser também importante a “resolução rápida da situação do Teatro de Bolso”. Quanto ao Fórum Luísa Todi, também “não reúne as condições para espectáculos de palco, não só teatrais, mas também, por exemplo, de bailado e de ópera”.
Relativamente às dificuldades financeiras, estas já não são novidade para o TAS. Há três anos a companhia viu o subsídio anual do antigo Instituto Português das Artes do Espectáculo (IPAE) ser reduzido de 50 mil contos para apenas 10 mil. A partir daí a situação “só teve tendência a piorar” e, neste momento, “estão por pagar dois meses de salários ao elenco da companhia”. A Câmara de Setúbal também “ainda não pagou a totalidade do subsídio de 120 mil euros prometido em 2003”, numa altura em que já deveria começar a pagar os 200 mil euros aprovados para 2004.
Em 2004, o TAS espera poder estrear quatro produções mas, tal como já tinha dito ao “Setúbal na Rede”, tudo “depende do subsídio concedido pelo Instituto das Artes (IA)”. A companhia pediu uma verba de 38 mil contos, em contraponto com os 15.600 contos recebidos no ano passado. Duarte Victor aguarda a resposta do IA, mas adianta que. se não for concedida a verba pedida, “a companhia pode ficar-se apenas pela realização de duas ou três produções”.
É neste contexto que surge a estreia da primeira produção do ano 2004. De acordo com o encenador da peça, Miguel Assis, “O Rapaz de Bronze” é um “conto muito bonito, dirigido especialmente às crianças”. A acção passa-se “num jardim pertencente a pessoas ricas”, onde existe uma estátua de bronze. À noite, quando todos dormem, a estátua, as flores e os animais “ganham vida e falam como os humanos”.
A peça pretende “transmitir valores bonitos às crianças, numa altura em que estão demasiado expostas à ficção violenta” que a televisão e outros meios apresentam. São sublinhados “os valores da pureza, amizade, verdade, justiça e da importância das promessas cumpridas”. Miguel Assis sublinha ainda o facto de ser “a primeira vez que um conto de Sophia Mello Breyner é retratado nos palcos setubalenses”.
O encenador espera que a adesão por parte do público “seja a melhor”, nomeadamente, as crianças “deverão gostar muito desta peça”. Isto porque os actores se empenharam “numa espécie de processo de regressão”. Ou seja, regressaram ao passado para se lembrarem das coisas que mais gostavam e, assim, poderem “transmiti-las às crianças através deste bonito conto”.
“O Rapaz de Bronze, com encenação de Miguel Assis, e interpretação de José Nobre, João Gaspar, Mário Sobral, Sónia Martins, Susana Brito e Isabel Ganilho, estreia dia 5 de Fevereiro, no Fórum Municipal Luísa Todi, às 21:30h. A peça está em cena até Março, com espectáculos às 16:00h, aos sábados e domingos.