Farinhas com BSE esperam incineração
no Campo de Tiro de Alcochete
O Campo de Tiro de Alcochete guarda há vários anos toneladas de farinha contaminada com BSE que esperam pela data da incineração. De acordo com o Major Gonçalves, Relações Públicas da Força Aérea Portuguesa, “a responsabilidade por estas farinhas é do Ministério da Agricultura” e o Campo de Tiro “limita-se simplesmente a guardá-las”, como faz com outro materiais.
O Campo de Tiro de Alcochete tem “características únicas no país” que permitem a realização de actividades paralelas com o verdadeiro objectivo da sua existência. Este local, com mais de oito mil hectares que se estendem por três concelhos, nomeadamente, Alcochete, Montijo e Benavente, é “a única carreira de tiro da Força Aérea existente em Portugal”, refere o Major Gonçalves. Nele se efectua o treino de ataques ao solo das aeronaves da Força Aérea e a largada de munições de instrução.
No entanto, por ser “muito grande e ter muitos armazéns” ao longo dos seus oito mil hectares, o Campo de Tiro de Alcochete “é pontualmente solicitado para armazenar determinados materiais”. Lá estão armazenadas as velhas moedas de escudo e também uma grande quantidade de farinhas contaminadas com BSE, à espera de serem incineradas. O Ministério da Agricultura terá dado as farinhas ao Ministério da Defesa e “comprometeu-se a dar novas instruções sobre quando sairiam de lá”. Mas as farinhas permanecem no mesmo local e o Ministério da Agricultura “não voltou a falar sobre o assunto”.
O Major Gonçalves garante que as farinhas contaminadas com BSE estão “devidamente guardadas e acondicionadas num dos armazéns do Campo de Tiro de Alcochete”. Garante ainda que “não representam qualquer perigo para o ambiente” e são “inspeccionadas periodicamente”. Este responsável sublinha que o campo de tiro tem capacidade para desenvolver outras actividades, como fornecer armazéns para guardar determinados materiais, que “não colidem com a actividade normal diária do campo”.
Sobre este assunto, o “Setúbal na Rede” tentou contactar o Ministério da Agricultura mas não obteve qualquer resposta até ao momento. Já o presidente da Câmara Municipal de Alcochete diz que “não comenta este assunto”, porque as questões relacionadas com o Campo de Tiro “são do foro militar e não se inserem na esfera de competências da autarquia”.
Campo de Tiro comemora centenário
De resto, a preservação e defesa do ambiente “são das maiores preocupações” dos militares do Campo de Tiro de Alcochete. Toda a actividade do campo “obedece a padrões de excelência e rigorosos” para a preservação do ambiente. Por isso, foi distinguido pelo Instituto Português da Qualidade com o certificado de qualidade ambiental. O prémio vai ser entregue no próximo dia 24 de Março, dia em que o Campo de Tiro de Alcochete comemora o centenário da sua existência.
A localização do Campo de Tiro em Alcochete deve-se ao facto de ser uma “zona de areias” que “permitem abafar a explosão” no caso de se realizarem testes com bombas reais. No entanto, os testes reais “só são feitos muito excepcionalmente” e “sempre de forma muito controlada, de modo a não representarem perigo para a população”.
A actividade diária no Campo de Tiro de Alcochete consiste na largada de munições de instrução, ou seja, sem explosão. O fogo real é feito “pontualmente e em pontos muito precisos”. Para além da Força Aérea, o Exército também solicita, “de vez em quando, a utilização do campo para realizar treinos”, bem como a Marinha e as forças de segurança, como a PSP.
As comemorações dos cem anos de existência do Campo de Tiro de Alcochete “não se vão limitar ao dia 24 de Março”, estando previstas várias iniciativas, “com destaque para a abertura do Campo de Tiro às visitas da população”. Assim, nos dias 20 e 21 de Março, para além de contactarem com as instalações do Campo de Tiro e “conhecerem de perto o que lá se faz diariamente”, as pessoas vão poder envolver-se em várias actividades.
Vai estar patente uma exposição fotográfica e vão realizar-se provas de aeromodelismo na pista de aviação do campo. Haverá também um espaço para a prática de desportos radicais, como slide, rappel e parede de escalada. Destaque também para uma exibição da equipa cinófila, ou seja, os cães de guerra da Força Aérea vão fazer uma “demonstração de como actuam em combate”. Haverá também um passeio de BTT que vai decorrer num percurso de 125 quilómetros e uma “demonstração de como se desactivam engenhos explosivos”. Durante todo o dia, o campo vai ser sobrevoado por aviões do Museu do Ar.
No entanto, as comemorações arrancam já amanhã com a actuação da Banda da Força Aérea na Sociedade Filarmónica 1.º Dezembro, no Montijo. No Sábado, a banda vai actuar no Cine-Teatro de Benavente e no dia 20 na Fundação João Gonçalves Júnior, em Alcochete. No dia 24, dia da unidade e do centenário, vai realizar-se uma cerimónia militar. 