ASSENTO PARLAMENTAR
por Vítor Ramalho
(Deputado do PS eleito pelo distrito de Setúbal)
O Governo e a publicidade
O Governo comemorou no dia 6 do corrente mês de Abril a passagem do segundo aniversário da sua tomada de posse. Aproveitando a efeméride, fez incluir publicidade paga em todos os órgãos de comunicação social, elencando as principais medidas que havia implementado.
Estranhei esta iniciativa por várias razões. A primeira, porque o exercício da governação, decorrente do sufrágio eleitoral, se deve assumir como um dever de representação dos eleitos. Como tal, as obrigações não se devem publicitar. Assumem-se. O impacto delas decorre naturalmente daquilo que os cidadãos sentem no seu dia-a-dia.
A acção governativa não deve ser publicitada como um detergente. A informação que dela se faz é outra coisa. Esse publicitamento e a forma como foi assumido transporta-nos para a natureza da sociedade em que hoje vivemos. Marcada pelo enorme peso da comunicação, não cuidando os governos, face ao desejo de se manterem no poder, a qualquer preço, de levarem em consideração, a forma como o exercem. Nem sequer se dando conta, ao fazê-lo como o actual governo o faz, da sua enorme fragilidade, tradutora de insegurança. Em segundo lugar estranhei ainda esse publicitamento porque em período de recessão, o governo tem de dar o exemplo, abstendo-se de encargos supérfluos, ainda que sem grande expressão.
Não nos pode exigir sacrifícios com uma mão, negando-os a ele próprio com a outra.
Estas considerações conduzem-no à análise daquilo que deveria ser essencial, na passagem do segundo aniversário da tomada de posse do governo. Do meu ponto de vista a essência do que temos perante os nossos olhos, aqui e agora, é que nos falece em absoluto a esperança. Os indicadores de confiança e com eles os principais dados estatísticos, como o desemprego e o investimento evidenciam que o rumo da nossa marcha não segue uma via que recrie essa esperança.
Quanto isso ocorre, tudo ou quase tudo falece. O nosso défice está no défice de alma, que este governo tem, incapaz de nos mobilizar para um projecto galvanizador. É por isso mesmo que, perante esse défice de alma, sentiu necessidade, de na passagem de um aniversário sobre a sua tomada de posse, nos “vender”, com publicidade paga, as iniciativas que empreendeu. É que na ausência dessa publicidade ninguém sentiria, salvo pela negativa, os impactos dessas medidas. Não é por aí que lá vamos e é necessário reforçarmos crescentemente essa consciência. O défice de alma deste governo, que nem sempre põe uma luz ténue que seja, ao fundo do túnel, está-nos a consumir o que de melhor temos. Ao invés de unir, desune. Ao invés de nos dar um norte, “vende-nos” um produto. Que ainda por cima não desejamos. Como as sondagens, de forma crescente nos indicam. É por isso que nas próximas eleições para o parlamento europeu deveremos votar em massa. Apresentando um cartão amarelo carregado a esta forma de agir. Para que no próximo encontro eleitoral, que se seguirá, apresentarmos um cartão vermelho, indicando ao governo onde é o local do balneário. Por sanidade e pela recriação da esperança, o povo português merece-o. Porque o desemprego crescente e assustador não é compaginável com publicidade barata. Os desempregados não se alimentam dela e não consta que comam jornais.