[ Dia 27-04-2004 ] – TIRO E QUEDA por Luís Lourenço.

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TIRO E QUEDA
por Luís Lourenço
(jornalista)
 

A Cultura dos “Blogs”

Confesso que este não é um tema sobre o qual eu fale com um conhecimento profundo. Diria mesmo que, pela pouca informação, considero um risco falar nele, mas vamos lá. Portanto, que me perdoem os entendidos mas, muitas vezes, é melhor falar correndo o risco de errar do que ignorar. Refiro-me a essa moda relativamente nova que são os “blogs”.

Desde sempre lhes virei as costas porque os poucos que vi não gostei. Quase sempre – e não vou aqui, por motivos óbvios citar os “blogs” em causa – me deparei com gente de poucos escrúpulos, a falar mal e depressa, a insultar e denegrir a imagem de terceiros, sem qualquer fundamento ou educação.

Tinha para mim que a cultura era enviesada, ou seja, encontrara-se um espaço onde, sem dar a cara, se podia destilar veneno sem limites. Tive azar nos “blogs” que consultei. Reconheço hoje que existem, como em tudo na vida, culturas bem diferentes daquela que citei e, acima de tudo, gente bem diferente.

Serve esta introdução para me referir ao “blog” setubalense “sadinos”. Por um mero acaso, durante uma pesquisa que efectuava deparei com o “Sadinos”, há cerca de um mês. Fiquei cliente e praticamente vou lá todos os dias. De uma maneira geral – há sempre quem destoe – os assuntos são interessantes e debatidos com elevação e conhecimento.

A discussão é participada, fundamentada e educada. Sinto-me bem num ambiente assim. Estou à vontade para falar dos “sadinos” e não pensem que faço aqui qualquer “frete”, por motivos de vária ordem. Em primeiro lugar porque, até hoje, sempre escrevi de acordo com as leis da minha consciência e portanto só escrevo o que penso e sem favores.

Em segundo lugar porque, que eu saiba, não conheço nenhum dos responsáveis pelo “blog”. Por fim, em terceiro lugar porque o primeiro contacto que tive com o “sadinos” até nem foi nada simpático. Referiam-se os intervenientes a um trabalho meu, publicado no “Setúbal na Rede”, sobre a criminalidade em Setúbal.

Nesse debate não estavam de acordo com o que eu tinha escrito – um direito que assiste a qualquer um de nós – mas fizeram-no de uma forma elevada, mostrando os seus pontos de vista, rebatendo argumentos e apresentando ideias. Julgo que aqui ou ali terei sido mal compreendido mas se calhar a culpa até foi minha que, porventura, não me terei explicado bem. Não interessa! O que importa é que, afinal, um “blog” pode ensinar e muito.

Escrevo isto porque tenho aprendido com gente anónima que sabe, conhece e opina sobre a nossa cidade. Penso que esta pode ser uma outra forma de participação cívica, de acção de cidadania. Afinal o que vale para os “sadinos” vale para todos os outros: os “blogs” serão sempre aquilo que as pessoas quiserem e eu acredito que, para alem de veículo de informação, eles poderão servir de elemento de ligação entre cada um nós e todos aqueles que estão nos diversos graus da escala do poder.  seta-8386642