À FLOR DA RELVA
por Paulo Sérgio
(jornalista da Sport TV)
Caiu o pano sobre a Liga de Honra e apesar de todas as dificuldades o Vitória de Setúbal conseguiu cumprir o seu único objectivo que era o de regressar à Super Liga. A equipa e, principalmente o clube, não tinham alternativa. A não subida de divisão não faria acabar o futebol profissional dos sadinos, como alguém chegou a dizer, mas iria conduzir a um vasto conjunto de mudanças. Por outras palavras o futebol profissional do Vitória de Setúbal iria com certeza ser totalmente diferente.
Ainda bem que o objectivo foi concretizado. Ainda bem que os jogadores, técnicos e dirigentes trabalharam todos em conjunto para que acontecesse o final feliz que conhecemos. Mesmo assim a SAD dos sadinos mantém-se firme na ideia de reduzir ainda mais o orçamento para a próxima temporada o que conduziu à saída do treinador Carlos Carvalhal. As duas opções são totalmente legítimas. Uns querem sanear o clube do ponto de vista económico-financeiro. Já o treinador pretendia dispor de recursos humanos em quantidade e qualidade suficientes para ficar à margem de quaisquer problemas.
Confesso publicamente que gosto do trabalho de Carlos Carvalhal. Tenho dele a imagem de um treinador competente, honesto e trabalhador. Irá longe na sua carreira. E por isso gostava que desse continuidade ao trabalho que em circunstâncias difíceis iniciou, em Setúbal, há cerca de um ano. Mesmo assim como sócio dos sadinos percebo que a administração da SAD não possa gastar aquilo que não tem e que por isso tenha sido impossível o entendimento.
Sem que esta minha afirmação encerre qualquer tipo de critica para anteriores dirigentes, não tenho grandes dúvidas que os clubes de futebol que terão sucesso num futuro próximo serão aqueles que conseguirem equilibrar as despesas com as receitas. É verdade que, cada vez mais, é preciso dirigentes com uma enorme capacidade imaginativa para encontrar dinheiro. Mas também não deixa de ser verdade que algumas das fontes de financiamento dos clubes acabaram. Por exemplo, dificilmente as autarquias poderão canalizar para os clubes o dinheiro que já canalizaram, seja de forma directa ou indirecta.
Também não deixa de ser verdade que já não há os mecenas de outros tempos que de forma desinteressada ajudavam o clube da terra. Assim sendo, não resta aos clubes de uma forma geral e por maioria de razão ao Vitória de Setúbal viver com aquilo que tem ou que os seus dirigentes conseguem arranjar. É por isso que estou consciente que a próxima época vai ser muito difícil. Porque não vai ser fácil fazer um plantel de qualidade com o pouco dinheiro disponível. Porque vamos sofrer até ao fim. Só espero que os adeptos percebam isto e que continuem a ajudar como o fizeram esta temporada. É que se a próxima época for de sucesso então será possível começar a sonhar com um Vitória de Setúbal à semelhança e imagem do seu enorme prestigio.
PS – Ao fim de dois anos de colaboração regular com o “Setúbal na Rede” entendo ser a altura certa para fazer uma pausa. Ao longo deste espaço de tempo tive sempre a preocupação de olhar para o Vitória de Setúbal de forma construtiva. Espero tê-lo conseguido. Entendo que o clube e a cidade só perdem com a discussão de factores acessórios que em nada ajudam a torná-la naquilo que já foi e que pretendemos que seja. Gostava que as pessoas que tiveram a paciência de me ler entendessem isto de forma muito clara. Muito obrigado a todos.