ENTRE LINHAS
por Brissos Lino
(Professor Universitário)
Saber ganhar e perder
Que o Desporto em Portugal está um caos – especialmente o futebol profissional – não será segredo para ninguém, mesmo antes de os apitos terem passado a ser famosos pela sua cor.
O Futebol Clube do Porto fez alarde da sua classe como equipa, mais uma vez esta época, com a vitória clara na Superliga e a chegada à final da Taça de Portugal e da Taça dos Campeões Europeus. José Mourinho está de parabéns, assim como a equipa técnica, jogadores e dirigentes.
Por isso se tornou mais confrangedor ouvir as declarações do treinador a seguir à final do Jamor. Zangado com o mundo, só porque perdeu um jogo importante, o treinador setubalense deu assim um péssimo exemplo de mau perder que não pode fazer escola entre nós.
Afirmou e reafirmou que o árbitro era “uma farsa”, em vez de admitir que perdeu a taça porque o adversário foi melhor no conjunto do tempo de jogo, chegando ao ridículo de reclamar foras de jogo mal assinalados quando, como é evidente, pela posição do banco de suplentes não teria qualquer possibilidade física de avaliar tais decisões da arbitragem.
Mas, como se não bastasse, sublinhou, ainda a quente, a versão de que não tinha ganho a melhor equipa, remoque que parece ter deixado cair mais tarde, já a frio. Um pouco de humildade não lhe fazia mal nenhum. Quem não sabe ser derrotado não sabe ser vencedor.
Quando, no tempo da outra senhora, se falava à boca pequena no desporto como forma de alienação de massas, se calhar não se estava tão longe da verdade como agora se quer fazer crer. Basta observar a promiscuidade entre políticos e senhores do futebol que por aí campeia, e que fazem dos ruis rios desta vida uma espécie de dons quixotes à beira da extinção.
Mourinho é porventura o melhor treinador português e um dos melhores da Europa. Tecnicamente não precisa de provar mais nada. Mas do ponto de vista humano ainda tem que crescer bastante e aprender a lidar com a pressão em momentos decisivos.
Tentar retirar brilho às conquistas e vitórias dos adversários não é a melhor maneira de alguém se afirmar.
Deu uma péssima imagem de si próprio, até porque se percebe que só lançou aquela acusação tão grave ao árbitro porque está de saída para Inglaterra, e por isso conta ficar fora da alçada da justiça desportiva portuguesa, que não deveria deixar passar em claro esta atitude infeliz, de modo nenhum.
E depois queixem-se da cabeça perdida dos adeptos…
PS – Bettencourt vai-se embora do Sporting. Ao que parece, em parte devido à atitude de Dias da Cunha, que tentou branquear a invasão de campo que uma claque verde protagonizou, contra a opinião do homem do futebol, que não só tentou travar no terreno tal abuso como reclamou castigo adequado para a claque. É por coisas como estas que os homens mais decentes do futebol se vão embora.