População de Poceirão em 72 horas de vela
contra abandono escolar
Cerca de 40 pais de alunos da freguesia de Poceirão estão hoje a realizar uma espécie de “vigília” contra o abandono escolar na freguesia. Durante três dias e três noites são esperadas centenas de pessoas que vão acender 540 velas, no local onde deverá ser construída a escola de primeiro e segundo ciclos de Poceirão. Há também vários bonecos acorrentados que, segundo José Manuel Silvério, da Comissão Pró-Escola do Poceirão, representam os alunos das freguesias “presos ao abandono escolar”. É a “continuação da luta por uma escola, na freguesia, que abranja o ensino secundário”.
Para já a adesão não é a esperada pois “é dia de escola e de trabalho” e, além disso, o calor “abrasador” que se faz sentir em Poceirão não convida as pessoas a deslocarem-se ao local. No entanto, José Manuel Silvério está convicto de que as “72 horas de vela” podem ter a participação de “mais de mil pessoas”, porque está em causa “uma luta justa para a população”.
A comissão vem, mais uma vez, exigir que a Câmara de Palmela “continue a pressionar o Ministério da Educação” para definir a data da construção de uma escola que abranja todos os níveis de ensino, em Poceirão. Esta foi a condição colocada pela população da freguesia para aceitar a construção de uma escola com ensino pré-escolar, primeiro e segundo ciclos, decidida pela Direcção Regional de Educação de Lisboa (DREL), no final do ano passado. Segundo José Manuel Silvério, a autarquia aprovou uma moção onde se comprometia a fazer pressão e a comissão “exige que a câmara faça cumprir a moção”.
Como até agora o Governo não deu a resposta pretendida, a comissão resolveu continuar a luta. Assim, às 9 horas desta sexta-feira, iniciou-se uma vigília da população que vai durar 72 horas. No local estão também bonecos acorrentados que simbolizam o “abandono escolar a que são votados os alunos da freguesia”, por “não terem uma escola secundária”. À noite, a população vai acender 540 velas, ou seja, “uma por cada criança que é obrigada, todos os dias, a levantar-se de madrugada e voltar de noite a casa, depois de percorrerem 40 quilómetros” até outras escolas do concelho de Palmela, ou fora dele.
A iniciativa termina no domingo, dia 13 de Junho, dia de eleições europeias, onde, de forma inédita, crianças e jovens, a partir dos 9 anos, vão poder escolher o seu candidato preferido. A Comissão Pró-Escola vai montar uma “mesa de voto própria” e proporcionar boletins de voto onde “a escolha vai ser entre o burro Justino (animal símbolo da luta da comissão) e os políticos que fecham os olhos”. O objectivo é “eleger o candidato Justino” que, se for eleito, “vai cortar as correntes do abandono escolar”.
A Comissão Pró-Escola dirige-se, depois, ao Governo Civil de Setúbal onde vai entregar os boletins de voto. Um “acto simbólico” que pretende demonstrar o caminho que é dado aos votos, depois de cada acto eleitoral em Portugal. Aliás, a governadora civil de Setúbal também é alvo das críticas de José Manuel Silvério, pois “não tem dado muita atenção a este problema”.
A reivindicação por uma escola até ao 12.º ano, para os alunos de Poceirão e Marateca, é antiga e conheceu um desfecho, no final do ano passado, que deixou a Comissão Pró-Escola, ainda mais descontente. O Ministério da Educação decidiu construir somente uma escola com ensino pré-escolar, primeiro e segundo ciclos. A vereadora da Educação da Câmara de Palmela, Adília Candeias, garantiu ao “Setúbal na Rede” que autarquia “tem pressionado o Ministério da Educação” e “já foi trocada muita correspondência”.
Adília Candeias refere que, por várias vezes, a autarquia “apelou, junto da tutela, para que tome uma medida de excepção”. Ou seja, tendo em conta que a tipologia introduzida pela nova Lei de Bases da Educação vai dividir o ensino em dois blocos, “a câmara pede que, excepcionalmente, se construa uma escola que contemple todo o ensino obrigatório”, no terreno já concedido pela autarquia para o efeito. No entanto, a resposta que chega do ministério “é sempre a mesma”, isto é, “mantém-se a proposta de construir somente uma escola até ao segundo ciclo”. A verba para as obras da futura escola “deverá ser colocada no PIDDAC para 2005”, segundo o compromisso feito pelo Governo.