Responsável do Hospor defende iniciativa privada
na área da saúde
O presidente do Conselho de Administração da Hospor, Manuel Agonia, defende que “o milho de que vive o país é a iniciativa privada”. Foi desta forma que o responsável respondeu, ontem, às críticas sobre a privatização da saúde feitas durante as conferências “Saúde em Portugal Novos Horizontes?”, realizadas no Hospor, em Setúbal. Acrescentou ainda que, ao nível da saúde, “estão todos de costas voltadas”, quando se deveria verificar “precisamente o contrário”.
O coordenador do grupo parlamentar do PS para a área da saúde, Luís Carito, acusa o Governo de ter “transformado 31 hospitais em empresas”. O deputado constata que, no primeiro ano, os resultados dos hospitais SA “foram superiores aos hospitais SP em cerca de 8%”. No entanto, no segundo ano, verifica-se que “os privados têm crescido mais ou menos o mesmo que os públicos”, refere. Assim, culpa o Governo por “não ter numa estratégia de saúde”, mas sim “um objectivo” que considera “obsessivo”, ou seja, “a diminuição das despesas na área da saúde”.
Já a vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Ana Manso, partilha uma opinião diferente. Para a deputada, a rede dos hospitais SA “institucionalizou programas de informatização dos sistemas” e “melhorou os recursos humanos”.
Sobre as listas de espera dos hospitais, Manuel Agonia refere que “aqueles que fazem acções de privilégio, como as Misericórdias, são as principais causadoras do problema”. Isto porque “não têm médicos”, “não têm empregados” e “não têm recursos”. O responsável pretende que sejam enviadas fiscalizações a estas comissões de saúde, “tal como acontece nos hospitais Hospor”. Assim, “seria possível investigar a sua contribuição na saúde dos portugueses”.
Os Hospitais Hospor, que existem há cerca de 24 anos, realizaram 851.106 atendimentos durante o ano de 2003. Neste sentido, a directora clínica do hospital Hospor de Setúbal, Ivone Fonseca, refere que esta unidade “realiza cerca de 70 atendimentos por dia”. Além disso, o hospital tem um “serviço diário de avaliações”, com “folhetos de reclamações que todos os dias são analisados”. Uma das principais preocupações desta unidade, a prestar serviço em Setúbal há cerca de ano e meio, “é manter a qualidade”, refere a responsável.
Manuel Agonia, que se considera um empresário, sublinha que, “para além do serviço prestado aos utentes”, os Hospitais Hospor “pagam também os impostos de que o Estado tanto precisa”. Algo que “nunca viu nenhuma empresa pública fazer”, refere. O administrador solicita ainda aos partidos e responsáveis da saúde para “não estarem de costas voltadas”. Assim, sugere que se realize uma “comissão de experiência” constituída por “todos os ministros e ex-ministros da área da saúde”. Para Manuel Agonia, “é necessário que se discuta para que a obra seja feita”.
Luís Carito quer que reforma da saúde comece pela base
Luís Carito defende que a reforma da saúde “deveria ter começado pela base”, ou seja, “pelos cuidados primários de saúde”. O coordenador critica, deste modo, o Governo que “começou a reforma pelos hospitais”, enquanto que “os centros de saúde continuam na mesma”. Para o deputado, a reforma deveria ter começado pelos centros de saúde que “devem ser geridos de uma forma descentralizada”, em colaboração com as entidades locais.
Já Ana Manso refere que o consumo de genéricos, num espaço de ano e meio, “subiu de 1% para 7,4%”. No entanto, realça que, em países mais desenvolvidos que Portugal, “a utilização de genéricos é bastante superior”. Relativamente à reforma da saúde, a deputada constata que, muitas vezes, “se fez apenas uma maquilhagem e não se foi ao fundo dos problemas”. No entanto, sublinha que “não há nenhuma reforma que consiga ter sucesso se não houver uma rentabilização dos profissionais”.
Luís Carito e Ana Manso pretendem que “a formação na saúde não seja vista como um gasto, mas sim como um investimento”. A deputada pretende ainda que exista um “plano de formação de saúde nas escolas”, de forma a educar os mais jovens nesta área. Já o deputado do PS constata que a formação na medicina, com as suas várias especialidades, “é cada vez mais dispendiosa”. No entanto, o deputado pretende que a formação na saúde “não sofra cortes, mas sim que seja racionalizada”.