[ Dia 27-07-2004 ] – >Vale da Rasca em rescaldo, sul da serra a arder.

0
Rate this post

Vale da Rasca em rescaldo, sul da serra a arder

O incêndio em Vale da Rasca “está em rescaldo”, mas “há focos de reacendimento em algumas zonas da serra”. O coordenador das operações, Mário Macedo, acrescenta que existe “uma frente de incêndio no sul da serra que ainda não está controlada”. Ontem, o secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna, Paulo Pereira Coelho, esteve no teatro de operações e defendeu que “não é por deixar a natureza num estado selvagem que se protege”. “É pela mão do homem, pois é preciso prever situações e criar condições para que não aconteçam”.

“Como querem proteger o ambiente se não cuidam dele?”, questiona o secretário de Estado. Paulo Pereira Coelho lamenta a perda de um património “inigualável” que deve servir de lição para que “um conjunto de homens não assista impotente a uma tragédia a que a todos ofende”. O presidente da Liga para a Protecção da Natureza, José Manuel Alho, acrescenta que o país “está irremediavelmente mais pobre”, em termos de património ambiental, e que é “urgente” uma avaliação “séria” para apurar responsabilidades.

O coordenador das operações, Mário Macedo, conta ao “Setúbal na Rede” que a situação na serra está “mais calma” mas prevê que ainda haja trabalho “para alguns dias”. O Convento da Arrábida “não corre perigo” porque “o fogo está afastado”. O guarda do convento, Quirino de Almeida, explica que o fogo “está a cerca de 1500 metros da propriedade” mas que “não há chamas, apenas fumo”. Ontem, a situação do Convento da Arrábida esteve “complicada”. Contudo, o helicóptero e o Canadair “travaram a propagação do incêndio”.

No terceiro dia de incêndios, os meios aéreos voltam a ser reduzidos. Mário Macedo explica que apenas “um helicóptero ligeiro ajuda no combate às chamas”. O Canadair “foi desmobilizado para um outro incêndio”. Neste momento, os bombeiros estão “a tentar cortar a frente de fogo”, através da abertura de caminhos com moto-serras e enxadas. Ainda não há previsão da meteorologia, mas o combate ao incêndio “depende da capacidade dos bombeiros na abertura dos caminhos”, uma vez que se trata de uma zona de mato serrado.

O presidente do Serviço Nacional de Protecção Civil, Paiva Monteiro, e o secretário de Estado defendem que a prevenção “passa pela abertura de aceiros, no meio da serra, de 50 em 50 metros”. Paiva Monteiro argumenta que esta é uma solução adequada porque “o problema é o carácter da serra, onde nenhum homem pode entrar”“Não foi por falta de meios que o incêndio tomou uma grande proporção”, o facto é que o mato é fechado e “nem com seis ou sete aviões se fazia melhor porque a água fica nas primeiras folhas”.

O presidente da Liga da Protecção da Natureza (LPN), José Manuel Alho, defende uma ideia contrária. José Manuel Alho é claro, “não há aceiros e caminhos que resolvam um incêndio com estas dimensões”. Um exemplo “óbvio” deste problema é a estrada entre o Convento da Arrábida e a 7.ª bataria do Exército. A estrada “é óptima” mas não pode ser usada com eficácia neste incêndio “devido às dimensões do incêndio”.

Questões estruturantes dificultam prevenção

José Manuel Alho explica que “há questões estruturantes que potenciam o perigo de incêndio no parque”. O desordenamento do território é um deles, pois existe “um conjunto disperso de habitações”. A prioridade dos bombeiros vai para a defesa das pessoas e dos seus bens e “é assim que e deve ser”. Contudo, “se não houvesse este desordenamento”, os bombeiros “podiam voltar o seu trabalho para a serra”.

Portugal “repete os mesmos erros do ano passado”. O ambientalista defende que “é preciso assumir prioridades” e é “inqualificável” que o Parque Natural da Arrábida não fosse considerado uma, face aos valores em causa. José Manuel Alho fala em “desarticulação entre os meios de combate”. Por exemplo, numa primeira fase, “deviam ter sido disponibilizados mais meios aéreos” para “evitar que o incêndio ganhasse grandes proporções”. Assim, “não houve um combate aéreo efectivo”.

Muitos populares têm vindo a acusar a direcção do parque natural de não autorizar a desbastação de mato junto às habitações. Contudo, José Manuel Alho explica que as pessoas “podem estar a confundir as orientações do parque”. O Plano de Ordenamento “não contempla essa proibição”, está apenas interdito “o corte de mato mediterrânico”. O presidente da LPN teme que a candidatura a Património da Humanidade fique “fragilizada”. Por isso, “é um imperativo nacional” arregaçar as mangas para salvar a Arrábida.  seta-1436281