Trabalhadores da Merloni receiam
deslocalização para Leste
Os trabalhadores da Merloni receiam que a fábrica de Praias do Sado “seja deslocalizada para a Europa de Leste”. O porta-voz dos trabalhadores, Manuel Bravo, garante que “há sinais evidentes desta possibilidade” como “a mudança da fábrica de Lisboa para a Polónia”. Por isso, os trabalhadores manifestaram-se, hoje, frente ao Governo Civil para “pedir ajuda e entregar documentos que comprovam as suas suspeitas”. O chefe de gabinete da governadora civil, Carlos Gamito, garante que, dentro das suas competências, vai ajudar “a encontrar soluções de viabilização da empresa”.
Durante a manifestação mostravam-se palavras de ordem como “Merloni faz falta ao distrito” e “o distrito precisa de emprego”. Actualmente, a empresa representa, directa e indirectamente, 1000 postos de trabalho. Através “de uma investigação efectuada pelos próprios trabalhadores”, estes ficaram a conhecer o plano de separação do sector de congeladores horizontais. A empresa “pretende ficar só com este sector” e Manuel Bravo desconfia que, mesmo assim, o sector “vai ser transmitido a uma outra empresa que fará a exploração”.
Com esta subcontratação adivinha-se “a desresponsabilização da Merloni em relação aos seus trabalhadores”. A manutenção do sector dos congeladores horizontais é apenas “uma operação de charme” para “calar os trabalhadores mais resistentes” e “tentar negociar com eles mais tarde”. Caso seja impossível negociar, “far-se-á o despedimento colectivo”. Os trabalhadores suspeitam desta intenção porque os congeladores horizontais “são o sector com as piores condições técnicas e de infra-estruturas”. Em Novembro de 2003, o director industrial da fábrica, João Paulo Mendes, confessou, em entrevista ao “Setúbal na Rede”, que “os países de leste são uma ameaça para a fábrica”.
A negociação entre a empresa e os trabalhadores já começou. Cerca de 70 trabalhadores “rescindiram o contrato de trabalho por mútuo acordo”. Contudo, Manuel Bravo explica que estas negociações são feitas “num clima de pressão”. “A empresa afasta os sindicatos destas negociações” porque negociar com um trabalhador, directamente, “é mais vantajoso”. Manuel Bravo acrescenta que, normalmente, “os trabalhadores não têm preparação para negociar estes assuntos”.
Actualmente, a Merloni tem cerca de 350 trabalhadores, mas com o plano “passa a ter 70”. Além disso, o encerramento desta unidade italiana “reflecte-se em outras empresas”. Por exemplo, a ISPT, que fica no Pinhal Novo e conta com 300 operários, produz componentes plásticos “somente para a Merloni”. A Metalabor fica dentro das instalações da Merloni e fabrica peças metálicas. Os cerca de 50 trabalhadores desta unidade também ficam “sem emprego”.
Manuel Bravo acrescenta que existem cerca de 30 casais a trabalhar na Merloni, o que se traduz “numa situação muito complicada”. A mulher do porta-voz trabalha na empresa responsável pela limpeza por isso também “pode ser despedida”. As idades dos trabalhadores rondam os 40 anos, o que torna “muito difícil arranjar um outro emprego”. A especialização profissional “não é muito grande”. Ou seja, caso sejam despedidos “podem não saber fazer mais nada”.
O chefe de gabinete da governadora civil, Carlos Gamito, explica que a intenção do Governo Civil “é incentivar a empresa a ficar”. Contudo, trabalhar nesse sentido “não é fácil devido à conjuntura”. O desemprego em Setúbal é agravado “pelo encerramento de empresas em outros distritos como o de Lisboa”. As pessoas trabalham fora “mas a situação social precária reflecte-se em Setúbal”. O papel do distrito passa por “criar condições para que as empresas se fixem” como aconteceu “com a Webasto”, no Parque Industrial da Autoeuropa (PIA).
Em Março deste ano, os trabalhadores já tinha alertado a governadora civil, Maria das Mercês Borges, sobre a situação da empresa. Na altura, a governadora “deslocou-se à empresa para se inteirar do caso”. Manuel Bravo sublinha que a administração “deu escassas informações à governadora” que “não lhe permitiram avaliar o problema”.
O “Setúbal na Rede” contactou o director industrial da Merloni, João Paulo Mendes. Por se encontrar em reunião, o director industrial não esclareceu o “Setúbal na Rede” sobre a possibilidade de deslocalização da empresa.