CARTAS DE MAREAR
por Mendes Ferreira
(Ortopedista e Médico do Trabalho)
Não é a “cêfa” que mata Nem os calores de Verão É a unha-gata E o cardo beija-mão
(Minho)
As ditaduras do século vinte e um não dependem de ditadores assassinos que abatiam as suas vítimas em óbvios campos de morte e cujos nomes de Dacheu, Gulag ou Belsen arrepiam a consciência colectiva e individual e envergonham para sempre a humanidade.
Infelizmente não começa o século vinte e um com melhores perspectivas no que concerne à eterna e inevitável (?) tentativa de alguns dominarem todos os outros.
E para que os chamados “outros” não sejam as novas vítimas têm que perceber que as coisas hoje têm outra forma e outros nomes.
Assim a tradução de Gulag e Dachau é tão somente ignorância. Os poderosos tanques e aviões chamam-se hoje competitividade e os imensos exércitos têm o nome de inovação. E quem não compreender que a nova economia que substituiu os disparates sobre a raça ariana e da insana e feroz ideia de igualdade através de capitalismo de Estado fica sujeito ao nome Gulag.
Mas desta vez campos de extermínio extensivos a qualquer lugar do mundo onde houver um ignorante.
E se a história não se repete factualmente ela é o ensinamento e a compreensão da fenomenologia, por mais insólita ou anódina de que por vezes se possa revestir.
“Portugal já está a arder?”
Esperemos que não seja a frase e a senha que muitos esperavam para a invasão, ocupação e vitória. “Paris já está a arder?” foi a frase do bárbaro assassino para saber se tinham sido cumpridas as suas hediondas ordens.
Que nos dias de hoje a pergunta feita em relação a Portugal não signifique que estamos permeáveis. Porque se assim for a nova escravatura teria um rosto – o nosso.
Outros povos e outras gentes nos obrigariam a comer a côdea, a troco de trabalho injusto. Onde a fome seria o destino e a vergonha. E sem recorrer às figuras sinistras e reprováveis de Gulag seremos “os outros” se eles forem mais competitivos, mais inovadores, mais rigorosos, mais preparados do que nós.
Mas… afinal apesar de Portugal estar a arder… é tempo de férias… não se preocupe muito com estas coisas… repouse, descanse, tome um banho de mar… mas cuidado com o sol! Não apanhe demais, nem se deixe queimar. Cuidado com o melanoma!
Olhe que este também mata que se farta… e não percebe nada de economia…