ENTRE LINHAS
por Brissos Lino (Professor Universitário)
Submarinos não apagam fogos!
Em vez de investir em meios aéreos para combate aos fogos florestais, o governo preferiu comprar submarinos, que servem para muito pouco, e passar aos cidadãos a mensagem da inevitabilidade dos incêndios.
A Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais, anunciada pelo antigo ministro da Agricultura, Sevinate Pinto, em Outubro de 2003, no rescaldo da tragédia dos fogos no Verão passado, só foi criada em Abril deste ano, e por não dispor de recursos financeiros e humanos próprios, visto ter chegado “atrasada” à mesa do Orçamento de Estado de 2004, reuniu pela primeira vez a 30 de Junho, ou seja, fora do tempo útil para este Verão.
Todos os Verões, arde metade do país. E todos os Verões os políticos asseguram que, no ano seguinte, tudo será diferente. Em 2003, arderam 400 mil hectares, uma catástrofe nunca vista na última década. Mas só até Julho deste ano já tinha ardido mais do que o ano passado, apesar de todas as juras dos governantes.
A realidade é que só existem duas maneiras de ganhar esta batalha. A primeira é a prevenção, que passa pela limpeza das matas, pelo ordenamento do território, pela vigilância nas florestas, e por uma legislação punitiva adequada, e adequadamente aplicada. A segunda é o combate aos fogos, através de uma coordenação eficaz (a inovação operada em 2003, com um comando único para os bombeiros e protecção civil, falhou redondamente), e de um equipamento adequado e suficiente, de que o país infelizmente não dispõe.
Alguém já fez as contas. Com os 385 milhões de euros que o país vai pagar só por um dos submarinos encomendados, podia adquirir 4 aviões Canadair, 7 helicópteros, 400 carros de 12 mil litros, 230 carros de 4000 litros, 200 carros de 2000 litros e 315 jipes de 600 litros, e distribui-los pelas quase 500 corporações de bombeiros em todo o país.
A vida é feita de opções. A vida política também. É bom que os cidadãos entendam que quem nos governa faz as suas escolhas, pelas quais terá que responder perante os cidadãos em tempo de eleições, mas também fora dele.
Não queremos fazer má figura por não termos ao menos dois submarinozinhos para mostrar, no “estrangeiro”, que até somos modernos e europeus, mas depois andamos a pedir aos países vizinhos que nos mandem meios aéreos para combater os nossos fogos, e deixamos arder toda uma riqueza chamada Arrábida.
Os fogos são inevitáveis, mas a sua prevenção e combate adequado também o deveriam ser.
Só o que não é inevitável, concerteza, é a compra dos submarinos, a construção dos dez estádios, que em grande parte vão ficar literalmente às moscas, passado o Euro, e tanto dinheiro mal gasto nas patetices de quem nos governa.
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