“Eis Bocage… Conversas de Botequim”
Bocage reconhecido no Brasil
Para o presidente da LASA, Maurício Costa, a tertúlia organizada pelo “Setúbal na Rede” demonstra um “grande dinamismo cultural” e é um “grande momento de convívio”. A iniciativa tem “muito valor”, porque “promove, não só os produtos gastronómicos da região, como também os produtos culturais”. Estes últimos são “muito importantes” e precisam de ser “divulgados e mais valorizados”.
“A cidade de Setúbal não estima os filhos da terra”, lamenta. Setúbal “devia ter mais força”, mas “nem sempre se valoriza o que é da terra”. Maurício Costa aponta como exemplo o facto de “muita gente desvalorizar e se esquecer” que o “Setúbal na Rede” foi o primeiro jornal exclusivamente digital do país.
A LASA organizou, este ano, a sexta edição do Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, “como forma de promover a criatividade e o aparecimento de novos valores nesta área”. O volume de participação é “muito positivo”, sobretudo pela diversidade de trabalhos e de autores, não só portugueses, como de outros países onde se fala a língua de Bocage. Na comunidade lusófona, a iniciativa “ultrapassou todas as expectativas” e quarenta candidatos, de entre os mais de cem que participaram, foram brasileiros.
A vencedora na modalidade de ensaio foi mesmo uma brasileira de nome Êrika Alice Furtwaengler, que participou com a obra “Manuel Maria Barbosa du Bocage: Personalidade e Personagens Nas Letras Portuguesas”. Êrika Furtwaengler deslocou-se a Portugal para receber o prémio, “mesmo sabendo que os mil euros que ganhou não chegam para compensar os custos da viagem”, realça Maurício Costa. “O motivo económico foi suplantado pelo valor cultural e pelo amor da autora à obra de Bocage”, conclui.
Êrika Furtwaengler marcou presença na tertúlia e ficou “maravilhada”. Por a considerar “tão sensacional”, a autora brasileira pondera mesmo a hipótese de realizar uma tertúlia deste género na sua cidade natal, no Estado de S. Paulo, Brasil. Reconhece, no entanto, que, de início, “não terá uma tão grande dimensão” e vai ter de começar com “um grupo menos numeroso de amigos e colegas”. Mas seria “óptimo” se chegasse ao “grande nível” da Tertúlia “Eis Bocage… Conversas de Botequim”. “É um estímulo para os poetas, que raramente têm oportunidade, para apresentarem a sua produção”, refere.
Êrika Furtwaengler é uma “grande admiradora da obra de Bocage”. Desde muito cedo, a mãe incutiu-lhe o gosto pela leitura, mesmo antes de saber ler, contando-lhe histórias. Este “grande amor pela leitura” levou-a à Faculdade de Letras para estudar Literatura Portuguesa. Um dos seus professores era português e levou-a a descobrir Bocage.
O primeiro texto onde conheceu o poeta setubalense foi numa peça de teatro de Romeu Correia onde Bocage era uma das personagens. Gostou tanto que começou a ler a poesia e tudo o que havia sobre Bocage. Sublinha que o poeta sadino teve uma “obra e vida extraordinárias e invulgares”. O poeta tinha “uma enorme sensibilidade” para se manifestar de diferentes formas. “Bocage é lírico e satírico” e estes aspectos “sedutores” da obra do poeta “agradam a todos”. Por isso, quando soube do concurso da LASA não hesitou em concorrer.