CRÓNICA DE OPINIÃO
por António Jardim
(Engenheiro)
Fundamentalismos diversos. Uma das maiores ameaças mundiais?
Fiquei em “estado de choque” quando vi em várias TV`s o atentado em Bagdad que vitimou 34 crianças e vários adultos, com um iraquiano aos berros dizendo que o helicóptero médico dos US só tinha evacuado soldados americanos, deixando os iraquianos em terra sem assistência. Apesar de já “empedernido” pelo que se tem visto confesso que a brutalidade da acção e a falta de tacto da coligação me chocam.
Sou dos que acreditam que haverá sempre fundamentalistas fanáticos, não só islâmicos como judeus e cristãos, que têm efectivamente de ser combatidos pelas armas ou de outro modo mas também que é preciso primeiro isolá-los, tirando-lhes a base de apoio e/ou eventuais motivações que lhes asseguram a continuidade e até fortalecimento.
É por isso que ninguém me “vende” as desculpas actualmente na moda de que tudo é terrorismo, como se um bando de loucos, sem motivos, se divertisse a fazer atentados suicidas de que são sempre as vitimas mais certas. Servem sim excelentemente para “branquear” em geral acções de retaliação ainda mais violentas e baralhar totalmente as causas. Sharon em relação à Palestina, Putin à Tchechénia, Bush ao Iraque e Afeganistão, os Governos do Ruanda, Congo, Burundi etc. e até do Sudão, não podiam estar mais gratos à “ideologia” do “terrorismo internacional”.
O problema é que não conseguem resolver duradouramente absolutamente nada, nem querem. A “firmeza” para eles, sempre rodeados de gigantescas medidas de segurança, é fácil, mas quando se trata do “mexilhão” é matá-lo ou deixá-lo morrer, (sempre com um ar devidamente compungido).
Mário Soares pôs o dedo na ferida: “é preciso conhecer o inimigo e as suas motivações”.
E daquilo que tenho visto até agora uma sobressai: o acesso aos recursos. A mão-de-obra barata, a posse da terra (dos outros) e o petróleo parecem-me ser as causas principais e os “media” a grande ferramenta de manipulação das opiniões publicas, retirando-lhes a capacidade de se indignar. Por isso é tão importante o monopólio das CNN, Fox etc. Por isso as Al Arabia e Al Jazeera, mesmo na sua insuficiência, alvos a abater.
Enquanto o Mundo não for capaz de exigir rigor em vez de mentiras e “erros de análise”, a diferença abissal actual entre ricos/pobres e/ou justiça/injustiça não deixará de gerar mais revolta e “terrorismo”.
Mas sendo a globalização económica exactamente baseada nessa diferença, o que irá acontecer? Estará o cidadão “rico” preparado para abdicar de alguma coisa pelo “pobre”, em busca da Paz?