[ Dia 15-10-2004 ] – Bando comemora 30 anos com aperto financeiro.

0
Rate this post

Bando comemora 30 anos com aperto financeiro

O teatro O Bando comemora, hoje, o 30.º aniversário. A companhia atravessa dificuldades financeiras mas o membro da direcção, Natércia Campos, garante que “não há falta de estímulo”. A vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Palmela (CMP), Adília Candeias, defende que “é difícil um grupo aguentar-se 30 anos sem um grande suporte financeiro” e “garantir um trabalho de qualidade como é o caso de O Bando”. Com um vasto programa comemorativo, que começa hoje, a companhia quer atrair a população à Quinta do Teatro, em Vale de Barris.

Natércia Campos está há 20 anos com O Bando e conhece “os altos e baixos da companhia”. A responsável caracteriza a atitude do grupo como “uma fuga para a frente”. “Sempre que há uma crise, há um salto para diante”, explica a responsável. Esta opção, às vezes, “agrava os problemas, principalmente os financeiros”. Do ponto de vista institucional “é riquíssimo” mas, em termos de dinheiro, “passa realmente por dificuldades”.

Apesar de usufruírem de algum apoio estatal, e da Câmara Municipal de Palmela dar uma ajuda “as condições estão longe de serem as ideais”. Natércia Campos defende que a situação só melhora “se o Governo se interessar por este grupo singular e investir”. Neste momento, O Bando aguarda pelo resultado das candidaturas a apoios, mas “está mentalizado que pode ter de reduzir a actividade”.

“Quem sai prejudicado é o país”, remata Natércia Campos. O que a companhia tem “de melhor e de único” é “a descentralização teatral que promove”. A opção pela itinerância “permite o contacto com culturas diferentes”. Um dos coordenadores das comemorações do 30.º aniversário, Gonçalo Amorim, explica que hoje se vai debater, exactamente, o desenvolvimento da cidadania, “um dos pressupostos de O Bando”.  

A itinerância cria, por vezes, “alguns percalços” e potencia os episódios curiosos. Em 1992, um espectáculo da companhia em Montemor-o-Velho foi feito a nado. O Borda d’Água, de Ramos Rosa, era apresentado aos espectadores em palcos flutuantes dentro de uma represa. Contudo, os actores, ao montarem o equipamento, “não se lembraram que as represas têm comportas”. A pouco tempo do início do espectáculo, “o nível da água tinha subido muito” e em vez de uma “vulgar” actuação no palco, “o grupo apresentou um espectáculo a nado”.

Numa passagem pela Guarda, em 1990, o grupo experimentou as dificuldades de comunicação, numa época em que os telemóveis não eram vulgares. A apresentação do espectáculo de percurso Os Bichos “foi planeada para 500 pessoas”. João Brites, o encenador da companhia, acreditava que era “o máximo que conseguiriam atrair”. Compareceram ao evento mais de 4000 pessoas o que “dificultava o percurso pelas ruas e as corridas e fugas planeadas”. Ainda hoje, quando visitam a Guarda, os populares falam do espectáculo, embora “não sonhem a aflição por que o grupo passava”.

O Bando vai a terras “onde é impensável ir”, reforça Natércia Campos, “onde não há condições de palco, de cenários, de luz e som”. Seguindo a política de carregar a casa nas costas, a companhia “leva todo o equipamento necessário” e “são os próprios actores que o carregam e montam”. O Bando “é sempre bem recebido em todas as terras”. Exemplo disso foi a visita recente ao Porto onde os espectáculos “estiveram sempre esgotados”. Hoje, apesar da chuva, “já estão muitas pessoas a assistir às actividades do aniversário”.

Palmela e O Bando têm relação “frutuosa”

A chegada a Palmela, há 5 anos, “pôs um ponto final no saltitar de sede em sede”. O Bando nasceu em Sintra e a primeira sede foi nas cozinhas velhas do Palácio da Vila.  A vinda para Palmela “foi mais uma fuga para a frente” porque “a companhia estava farta de andar de casa em casa”. Assim que chegaram, propuseram a criação do Festival Internacional de Artes de Rua (FIAR) que dura desde então. “Abriu-se a possibilidade de partilhar a cultura local” e “introduzir o vírus da contemporaneidade”. Natércia Campos acredita que a companhia “fez, pelo menos, um milagre em Palmela”. Actualmente, o espectáculo final do FIAR, o Pino do Verão, junta todas as bandas filarmónicas do concelho. Até ao FIAR, isso “era impossível” porque as bandas “estavam de costas voltadas umas para as outras”.

A vereadora da Cultura da CMP, Adília Candeias, destaca “o trabalho de formação” que o grupo desenvolve nas escolas secundárias e básicas do concelho. Neste momento, “há grupos de teatro em todas as escolas fomentados pelo trabalho de O Bando”. Adília Candeias realça também “a valorização da cultura local que o FIAR permitiu”. Na última edição, estiveram presentes cerca de 300 pessoas em palco, inclusive populares. “Foi delicioso”, reforça a vereadora.

Do vasto programa comemorativo constam cinco peças da companhia e um concerto, no próximo domingo à noite, que faz a compilação das composições musicais dos espectáculos do teatro O Bando. Há convidados búlgaros, brasileiros, italianos, alemães e espanhóis que vêm não só assistir, como participar nos debates. As comemorações estendem-se até segunda-feira. seta-3154032