à Repsol
O complexo petroquímico de Sines da Borealis vai passar para as mãos da Repsol YPF “dentro de dois a três meses”. O negócio já foi fechado, mas, segundo o administrador da Borealis, Ronald Calhau, a conclusão da transacção “depende ainda da autorização da Comissão Europeia (CE)”. A Borealis garante que “todos os postos de trabalho estão salvaguardados”, mas o Sindicato das Indústrias Químicas e Farmacêuticas (SINQUIFA) tem “muitas dúvidas” sobre o futuro dos trabalhadores quando a Repsol ficar definitivamente à frente da fábrica de Sines.
“Todos os contratos de trabalho vão ser passados para a Repsol, sem que haja despedimentos resultantes do negócio”, garante a Borealis. Até finalização da fase de transição, o que deverá acontecer no prazo de dois a três meses, os trabalhadores “continuam a pertencer ao grupo da Borealis”. Depois, tudo passa a ser controlado pela empresa espanhola que vai receber todos os contratos de trabalho.
No passado dia 8 de Outubro, quando o negócio ficou concretizado, a administração da Borealis promoveu reuniões com todos os trabalhadores, representantes e sindicatos. Segundo Ronald Calhau, “as pessoas ficaram com dúvidas, como é natural perante um processo de mudança”, mas ficaram “mais descansadas com as garantias dadas”. Além disso, o responsável refere que “todos acreditam que o futuro mais a longo prazo e os investimentos ficam mais favorecidos com a Repsol”.
Mas apesar das garantias da Borealis, o presidente do SINQUIFA, José Rosado, não esconde as preocupações pois “há ainda muitas questões por esclarecer”, nomeadamente por parte da Repsol. Segundo o sindicalista, o grupo espanhol “não apresentou, até ao momento, qualquer projecto concreto para o que pretende fazer do complexo petroquímicos de Sines”. Além disso, os trabalhadores “não ficam com garantias de que as suas condições de trabalho se vão manter ou melhorar”.
José Rosado manifesta também estranheza pelo facto de a transacção se ter realizado numa altura em que a Borealis “se manifestava disponível para a revisão do acordo de empresa”. Isto significa “o abandonar de uma responsabilidade” que estava prestes a ser assumida e demonstra que a Borealis “não se preocupou com os trabalhadores” quando encontrou uma oportunidade de negócio.
José Rosado defende que a Repsol “tem de dar explicações sobre o que fazer em relação ao complexo de Sines e às pessoas que lá trabalham”. Além disso, o SINQUIFA exige que a empresa assuma a responsabilidade que ficou pendente e “dê garantias concretas de que vai negociar a revisão do acordo de empresa”.
Por tudo isto, o SINQUIFA assegura que os trabalhadores “não estão totalmente satisfeitos”. A situação é ainda mais preocupante já que “há exemplos claros, noutras fábricas da Repsol”, de que a empresa exerce uma “política prejudicial quer para os trabalhadores, quer em termos ambientais”. “A Repsol é uma empresa que trabalha na perspectiva do lucro sem se preocupar muito com as condições dos trabalhadores”, remata.
Repsol reforça posição na Península Ibérica
Ao adquirir a Borealis Polímeros S.A., que inclui todos os activos do complexo petroquímico de Sines, a Repsol YPF “reforça a sua posição na Península Ibérica e no mercado europeu”, adianta Ronald Calhau. Este grupo “está fortemente implantado na Península Ibérica”, onde possui fábricas em Puertollano e Tarragona, Espanha. “Já a Borealis, aposta mais no norte e centro europeu”, refere o responsável.
Por isso, a venda do complexo de Sines permite uma “maior concentração da estratégia da empresa nos seus quatro maiores complexos produtivos na Europa”, ou seja, na Áustria, Bélgica, Finlândia, e Escandinávia. Assim, vai ser possível “aumentar a competitividade” e um “crescimento de modo sustentado”. No entanto, a Borealis “não vai abandonar o mercado Ibérico”, pois este “continua a ser importante para a empresa”, que vai manter o Centro de Apoio ao Cliente em Barcelona.
Ronald Calhau garante também que a transacção entre as duas empresas “não inclui a transferência da lista de clientes”. Esta é uma forma de ”garantir a competitividade “ e é também um requisito importante para a autorização a CE. Isto porque, “é dada muita importância ao facto de não se criarem condições para a existência de monopólios”.
Mais enquadrado na estratégia da Repsol, o complexo de Sines vai “permitir um novo desenvolvimento nas áreas das olefinas – produtos petroquímicos base – e poliolefinas”. Assim, o grupo espanhol complementa o seu ‘portfolio’ de produtos com novas aplicações que, actualmente, não são produzidas nos complexos de Espanha. A Repsol vai também aumentar a capacidade de produção de ‘cracker’ na ordem dos 38%, para além de aumentar em 28% a capacidade total de produção de poliolefinas e em 55% a capacidade de produção de polietileno.