ENTRE LINHAS
por Brissos Lino
(Professor Universitário
É óbvio…
É óbvio que a saída do Professor Marcelo da TVI tem tudo a ver com as fortíssimas pressões exercidas pelo governo sobre a Administração daquela estação de televisão.
É óbvio que Durão Barroso, enquanto primeiro-ministro de Portugal deve ter ficado mal disposto com muitos comentários de Marcelo, mas nunca ousou tomar a atitude retaliatória do “liberal” Santana, o que o coloca a milhas deste, como estadista.
É óbvio que a TVI, do ponto de vista da sua administração, é uma máquina de fazer dinheiro. Por isso, a partir do momento em que Marcelo incomoda o governo, de quem dependem alguns negócios importantes do seu grupo económico, passa a ser descartável, já que não é controlável.
É óbvio que o ministro Gomes da Silva, deputado discreto e cinzento durante anos, mas sempre um santanista incondicional, se tornou o grilo falante do actual primeiro-ministro, vindo a público dizer aquilo que ele próprio não podia.
É óbvio que os actuais detentores do poder executivo no país nunca revelaram semelhante revolta perante as “mentiras” transmitidas sistematicamente por Marcelo, “com desfaçatez e sem qualquer vergonha, sob a capa de comentário político” (segundo eles), na altura dos governos de Guterres. Na ocasião dava muito jeito, claro…
É óbvio que a audiência de mais de um milhão de portugueses, que acompanhava regularmente a “missa dominical” de Marcelo, bastante pesou na reacção governativa.
É óbvio que o poder económico vai assim controlando e amordaçando o poder político.
É óbvio que o presidente Sampaio deve estar a entrar em parafuso com tudo isto, em especial porque poucas pessoas entendem que o PS de Ferro Rodrigues não estava preparado para ir a eleições quando Durão correu para a Europa, deixando-o sem alternativa credível.
Mas também é óbvio que o princípio do contraditório tem que estar presente em termos de comentário político televisivo, em especial quando o comentador é um alto quadro, dirigente e ex-líder partidário. Só que é imoral e demagógico só agora suscitar tal questão, ao fim de quatro anos e meio.
É que assim ninguém leva a sério o argumento.