[ Dia 31-12-2004 ] – CRÓNICA DE OPINIÃO por António Chora.

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CRÓNICA DE OPINIÃO
por António Chora
(Coordenador da Comissão de
Trabalhadores da VW Autoeuropa)

 

A VW Autoeuropa e o futuro

O ano de 2004 está a terminar e como sempre, é bom fazer um pequeno balanço do que ficou para trás e olhar para diante, para prepararmos os desafios que no campo laboral vamos ter que enfrentar a curto e médio prazo.

Os últimos doze meses foram marcados pela complicada situação que atravessa o mundo da produção automóvel e a que nem o grupo VW nem a fábrica da VW Autoeuropa estão alheios.

O excesso de capacidade, os erros de gestão no que respeita ao lançamento de novos produtos, a concorrência interna de produtos similares, a baixa generalizada das vendas, a concorrência com os países do leste e do sudoeste asiático nomeadamente a China, fizeram com que sobre muitas fábricas do grupo pairasse o fantasma da deslocalização ou despedimentos em massa.

Tudo isto é extensível a outras marcas, tais como a Opel, a Nissan, a Porsche, a Mercedes etc. mas também ao sector naval, aos electrodomésticos no caso português veja-se a Merloni, aos Têxteis, calçado etc.

Isto originou que em praticamente todos os processos negociais de acordos de empresa, os representantes dos trabalhadores dessem máxima prioridade à defesa do emprego, o mais recente dos quais, foi o acordo assinado pela IGMETALL para as fábricas da VW na Alemanha Ocidental (para quem ainda não saiba, 14 anos depois da unificação, os acordos de empresa, os salários e os horários continuam diferentes, para pior no Leste), visou apenas a garantia dos postos de trabalho até Março de 2011, tal é a triste realidade neste sector.

Porém este não é o único acordo deste género realizado no grupo VW e cuja reivindicação principal foi a defesa dos postos de trabalho.

O mesmo já tinha acontecido na VW Pamplona em 2002, evitando mais de 600 despedimentos, seguindo-se a VW Autoeuropa em 2003, (aqui evitou-se que até Setembro de 2005 mais de 800 trabalhadores perdessem o emprego), voltou a acontecer na SEAT e na VW México evitando nestes dois casos mais de 2 500 despedimentos e em muitas outras fábricas da Inglaterra à Africa do Sul passando pelo Brasil.

O acordo alcançado em 2003 na VW Autoeuropa (e há que situá-lo neste contexto para o podermos entender) cumpriu os seus objectivos, tendo nestes dois últimos anos a produção sido reduzida em cerca de 40 000 carros sem recurso a qualquer processo de despedimento colectivo, cumprindo ambas as partes o acordado (não houve despedimentos, os trabalhadores não foram aumentados e o total de paragens com pagamento salarial foram entre 2003 e 2004 de 45 dias).

Este acordo que foi demagógica e duramente criticado (por vezes em surdina) por alguns burocratas sindicais, cujos postos de trabalho estão defendidos nas empresas estatais ou nas direcções sindicais, foi também elogiado por alguns “papagaios” do liberalismo capitalista (também alguns sem saber do que falavam), a verdade é que num caso como no outro, ambos vivem de costas viradas para a realidade.

 Este acordo é uma bandeira dos trabalhadores, e deve entender-se na base de um conceito solidário, que é o de dar primazia ao colectivo sobre o individual, permitindo repartir o trabalho para trabalharmos todos e criar condições para garantir a manutenção do emprego a largo prazo.

Passaram 15 meses sobre a assinatura do acordo, mas desgraçadamente, o programa de produção para 2005 é de nova redução, desta vez de 10 000 carros, apesar do anuncio de novo produto, o que totaliza uma redução desde a assinatura do acordo de 50 000 carros.

È por tudo isto que o acordo que iremos negociar em 2005 vai ter para todos nós uma importância fundamental, pois vai decorrer durante o período de lançamento de um novo produto o que poderá ser positivo para todos, mas também pode complicar as coisas.

As principais preocupações devem ser a correcção das cargas de trabalho resultantes das rescisões por mútuo acordo, a manutenção dos turnos, aumentos salariais, desbloqueamento dos níveis, o futuro da fábrica e dos postos de trabalho.

O compromisso para estas negociações deverá ser o de encontrar consensos e envolver os trabalhadores na elaboração de reivindicações justas, em todo o processo negocial e na forma democrática de decisão final.

Espero que os últimos reconhecimentos e elogios que esta fábrica tem recebido, se traduzam na melhoria das condições laborais e salariais correspondendo assim ao esforço que os trabalhadores tem realizado nestes últimos anos. seta-6629603