Balanço do ano 2004
Sindicatos apelam a mais investimento no distrito
A elevada taxa de desemprego e o encerramento de várias empresas no distrito são os principais problemas apontados pelos sindicatos, no ano 2004. O coordenador da União dos Sindicatos de Setúbal (USS), Rui Paixão, apela para a necessidade de “mais investimento na indústria transformadora”, como a “única solução para o desenvolvimento do distrito”. Já o coordenador da União Geral de Trabalhadores (UGT), Cândido Teixeira, sublinha que a taxa de desemprego, em Setúbal, “continua a ser superior à média nacional”.
Para Rui Paixão, o ano 2004 é marcado por “dois traços fundamentais”. Por um lado, assistiu-se a uma “ofensiva generalizada contra os direitos dos trabalhadores”, contra o emprego e as funções sociais que, constitucionalmente, competem ao Estado. Por outro lado, os trabalhadores “souberam dar uma resposta organizada” e “lutaram pela exigência de uma nova política”.
Em 2004, “foram cortados muitos direitos”, o desemprego “continuou a aumentar” e, como consequência, o poder de compra dos trabalhadores “diminuiu”. Mas os trabalhadores deram a devida resposta e o ano 2004 foi, assim, marcado por “muita luta laboral”. Houve “grandes manifestações” que tiveram uma “forte participação dos trabalhadores do distrito”. Os trabalhadores organizam-se e lutam, “mesmo sendo obrigados a emitir pré-avisos de greve para realizar estas acções”, o que obriga a um desconto nos salários. “Isto mostra o descontentamento e a necessidade de uma nova política”, sublinha.
Também o coordenador da UGT reconhece que 2004 ficou “muito aquém do esperado”. As negociações com o Governo, em termos de Código de Trabalho, “não foram nada positivas”. Além disso, reitera as preocupações com a “elevada taxa de desemprego” e com a “não recuperação do poder de compra”. O défice entre oferta e procura de emprego foi “negativo”, pois, muitas empresas encerraram e “não foi criada oferta alternativa”.
No entanto, o coordenador da estrutura sindical afecta à CGTP sublinha que os trabalhadores “tiveram uma vitória muito importante”, que foi a dissolução da Assembleia da República. Por isso, em 2005, há a possibilidade de “substituir a actual política laboral por uma política de crescimento económico e desenvolvimento”, da qual “o distrito e o país necessitam urgentemente”.
“Os trabalhadores e a população, em geral, não podem desperdiçar a oportunidade que é dada nas eleições de Fevereiro”, sublinha Rui Paixão. São “muitos anos de diminuição de salários, de poder de compra e de nível de vida”, por isso as eleições são “a grande oportunidade para inverter radicalmente esta situação”. Cândido Teixeira concorda, mas avisa que, apesar das eleições “criarem expectativas mais positivas”, a situação do país “não é muito favorável”.
Para 2005, o coordenador da USS apela a “mais investimento no distrito de Setúbal, sobretudo na indústria transformadora”. O último grande investimento nesta área foi feito há muito anos, com a instalação da Autoeuropa no distrito. O responsável realça que “é a indústria transformadora que cria riqueza”, e “não os supermercados que criam postos de trabalho, a maior parte deles sem grande qualidade, e os outlets”.
“Não é que a CGTP esteja contra a vinda de mais comércio”, mas há a necessidade de virem empresas produtoras que “criem riqueza e mais postos de trabalho em seu redor”. Mas o que está a acontecer “é precisamente o contrário” e “continua o ataque contra o tecido produtivo do distrito que é o que cria mais riqueza”. Um conjunto de empresas, como a Lisnave e a Alcoa, “estão a por em causa postos de trabalho”. A Alcoa queria deslocalizar a produção, que está a 10 quilómetros da Autoeuropa, para a República Checa que está a milhares de quilómetros.
Também Cândido Teixeira espera que o próximo ano seja “melhor do que este que agora termina”. O responsável pede mais investimento na oferta de emprego e que “os portugueses consigam recuperar o poder de compra”. Espera ainda que o próximo Governo “negoceie os aumentos salariais tendo em conta a inflação nacional, e não a europeia”.