Os serviços de estruturação urbano-turística, os serviços de logística e apoio à actividade económica e a indústria metalomecânica, constituem os três clusters (cachos) de actividades em que se baseia a especialização produtiva da Península de Setúbal. Nestas actividades se ocupam mais de 2/3 das pessoas que têm o seu emprego na região, conferindo à PS uma base económica claramente terciária.
A especialização regional está ancorada na valorização de potencialidades endógenas à região, tais como: abundantes recursos naturais, mão-de-obra relativamente qualificada, saber-fazer alicerçado na tradição, mercado local-regional dinâmico, acessibilidade a serviços especializados, boa capacidade de iniciativa empresarial, organização do padrão de especialização em torno de actividades que permitem valorizar as economias externas associadas às sinergias de aglomeração dos seus diversos segmentos.
A estes trunfos competitivos a Península de Setúbal juntou nos últimos anos condições de inserção territorial favoráveis, o que lhe permitiu reforçar o seu padrão competitivo e aspirar a desempenhar novas funções no espaço da Região Metropolitana de Lisboa e do país.
As dinâmicas da década de 90 evidenciaram igualmente que a consolidação competitiva da região dependerá não só da concretização de diversos projectos estratégicos ao nível das infra-estruturas, como também do reforço da capacidade organizacional do tecido produtivo da PS —nomeadamente ao nível das estruturas de enquadramento e das redes empresariais de cooperação para a inovação e para a internacionalização— e, em terceiro lugar, da forma como a região venha a conseguir afirmar a especificidade/complementaridade do tipo de serviços que oferece face aos oferecidos pela AM Norte.
A atracção e formação de recursos humanos e actividades altamente qualificados —nomeadamente no domínio das novas tecnologias, dos serviços de logística e de suporte à articulação inter-territorial, e ainda na fileira do automóvel— vislumbra-se como um desígnio incontornavel do desenvolvimento regional. Até porque esta é a via para conciliar competitividade e empregabilidade. Na AMN o custo salarial hora é, em média, superior em 60% ao do país. Ora, a margem norte da área metropolitana não deixou de ser o espaço mais competitivo do país por isso, antes pelo contrário.
Vencer aqueles desafios deverá pressupor a capacidade de remover as principais debilidades competitivas intrinsecamente ligadas à qualidade do meio territorial, nomeadamente:
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A falta de coesão territorial da região e a reduzida funcionalidade urbana no seio dos principais eixos estruturadores da sua vida económica e social: o arco ribeirinho Trafaria-Montijo, o espaço canal Almada-Setúbal, o eixo potencial Montijo, Palmela-Setúbal.
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O défice de articulação entre os núcleos urbanos da região e o amplo espaço cuja paisagem ainda preserva fortes marcas rurais. O elevado potencial que as boas condições ambientais e paisagísticas que o espaço rural da PS congrega é prejudicado pela forma como os espaços naturais se articulam com os espaços urbanos, bem como pelas ameaças associadas à transformação da paisagem natural e do meio rural: forte pressão imobiliário-urbanística, abandono da actividade agro-florestal, perda de identidade cultural e territorial, desintegração dos laços de solidariedade familiar e de vizinhança.
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As debilidades anteriores exprimem-se na imagem da PS enquanto espaço urbano desordenado e desqualificado, com evidentes reflexos negativos na capacidade de atrair recursos e actividades qualificados, mas também com forte incidência nas condições locais de vida: défice qualitativo de serviços e equipamentos colectivos, seja no domínio da saúde, da educação, da cultura ou do lazer.
As tendências que apontam no sentido da reconfiguração do espaço metropolitano, e para a emergência de uma nova plataforma logística de redistribuição e serviços complementares em torno do triângulo Pinhal Novo-Pegões-Marateca, constituem potencialidades a valorizar para ultrapassar as debilidades antes referidas. Todavia, importa não perder de vista que a concretização de um novo modelo territorial metropolitano —polinucleado e articulado em malha— que reforce a centralidade urbana e a coesão territorial da Península não dispensa um enorme esforço de investimento público. Ao nível das infra-estruturas (urbanas, rodoviárias e ferroviárias —de âmbito nacional, regional e local) mas também ao nível da eficiência dos serviços de transporte colectivo, para além, claro está, do esforço de requalificação urbanística e ambiental (com particular incidência nas frentes ribeirinhas, nos espaços públicos —urbanos e rurais— e nos equipamentos básicos de suporte à vida social, ao lazer e à cultura).