[ Setúbal na Rede ] – PEDEPES – Questões Sociais

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Questões sociais

A Península de Setúbal tem sofrido constantes mutações do seu sistema produtivo o que se tem traduzido por uma grande flexibilidade das dinâmicas do mercado de trabalho e de rendimento das famílias. Simultaneamente, as dinâmicas demográficas têm vindo a estabilizar e, a estruturar de forma mais integrada a Península na Área Metropolitana. Estas dinâmicas socio-demográficas parecem hoje iniciar um novo ciclo que se caracteriza por uma paragem no crescimento demográfico, uma concomitante alteração da estrutura etária através de um aumento dos mais velhos e uma manutenção de uma população pertencente a grupos populares e médios baixos.

Dinâmicas de mudança:
instabilidade produtiva e inserção metropolitana

Apesar das diversidades internas à Península de Setúbal, as mudança mais evidentes na região parecem resultar de três processos estreitamente articulados: um sistema produtivo de grande instabilidade e em permanente mudança, uma proximidade com a capital o que facilita um crescimento polarizado e, em larga medida, hipertrofiado, e uma região de fortes surtos migratórios e de difícil sedimentação urbanística e simbólica.

Dinâmicas de exclusão: desemprego, habitação e marginalização

As fragmentações sociais que a Península de Setúbal apresenta hoje decorrem destes processos de crescimento, característicos das regiões metropolitanos e de especificidades locais que se articulam com a sua história interna. Um pouco por todo o lado encontramos dinâmicas de exclusão, que se reforçam mutuamente, sendo especialmente fortes e perigosas e são apontadas como estando na origem de grande parte das fragilidades dos contextos metropolitanos: o desemprego, a habitação e a marginalização juvenil.

O desemprego, sendo estrutural, exige uma resposta “urbana” já que sabemos que a economia competitiva não é capaz de dar respostas suficientes. A habitação, e o seu enquadramento – onde se situam os equipamentos de conforto urbano e de lazer- é uma dimensão indispensável de inserção social ou, pelo contrário de criação de guetos de fortes impactos na qualidade de vida dos residentes nesses locais e no resto da cidade. A marginalidade juvenil, sobretudo em países com imigração recente, tem estado na origem de grande parte das desordens urbanas, agravado que está o fosso crescente entre jovens e as instituições políticas. A vulnerabilidade desta população ao desemprego e à falta de habitação obrigam a considerar políticas específicas de inserção social de crianças e jovens em meios sociais desprivilegiados.

Potenciais factores de coesão social: reforço de equipamentos, melhoria da gestão regional e promoção identitária

Para além destas vulnerabilidades que decorrem de contextos mais globais, a análise realizada permite considerar que o reforço da coesão social na Península de Setúbal parece estruturar-se através de 4 factores:

  • adequação das actividades e equipamentos às transformações socio-demográficas em curso e aos novos problemas sociais;

  • reforço dos equipamentos colectivos passando para uma segunda geração de necessidades;

  • urgência de novas formas de gestão regional

  • e, finalmente reforço e promoção de uma identidade regional positiva.

Diagnóstico estratégico das fragilidades da Península de Setúbal

A análise realizada permite constatar uma melhoria significativa da infraestruturação urbana e um crescimento muito significativo dos equipamentos colectivos básicos e dos serviços sociais públicos nomeadamente ao nível da saúde, educação, segurança social, saúde e desporto. Apesar dessa melhoria a distribuição destes equipamentos não está feita de forma equilibrada existindo ainda regiões de carência acentuada ao nível de equipamentos básicos. No entanto, a maioria dos municípios está em fase de passagem para níveis mais elaborados, e diversificados, de equipamentos situação que é mais exigente quer em recursos financeiros e humanos quer nas interfaces entre municípios e entre estes e outros serviços públicos.

A melhoria de serviços e equipamentos é tributária não apenas das condições exógenas de descentralização ministerial, mas também do dinamismo autárquico e da sociedade civil através de uma rede associativa activa.

Simultaneamente, o diagnóstico revelou, em todos os sectores em análise, as dificuldades de gestão regional dos serviços e actividades a dois níveis fundamentais: i) na consolidação de níveis de análise, de decisão, de programação regionais e ii) numa gestão participada e interactiva dos novos equipamentos e serviços. O repensar destas articulações não está necessariamente dependente da regionalização do País e levanta um interessante – e indispensável – debate sobre aquilo que tem sido apresentado como uma das grandes potencialidades da região: a intensa interacção das forças vivas locais. Não parece possível garantir o desenvolvimento futuro da região sem instituir uma estruturação político-administrativa que estabeleça as bases para uma gestão coerente do território e a governabilidade depende, em primeiro lugar, da representatividade e eficácia apresentada pelas formas de governação regional actualmente inexistentes, ou pelo menos, confusa e segmentada.

Esta reflexão sobre os níveis regionais de decisão, associa-se ainda a questão das actuais formas de participação do cidadão. Como se disse, estamos perante um tecido social e associativo muito activo mas também a essa qualidade não tem correspondido formas novas, contratualizadas ou não, de participação do cidadão, antes pelo contrário algumas informações apontam para um fechamento das relações e interacções sociais, à semelhança aliás do que acontece na maioria das zonas urbanas europeias. Argumenta-se com o aumento da distância (física, e temporal mas também social e político/burocrática) entre a administração e o cidadão.

A participação cidadã é um elemento chave para construir cidades seguras e justas. A insuficiência das formas de participação e usufruto da cidade vem acompanhada de um sentimento de isolamento, de perda de identidade local e regional, de desinvestimento na esfera colectiva e afastamento da administração, que não é compatível com a necessidade de um projecto de região com o qual todos se podem identificar.

Potencialidades e fragilidades por sectores

Uma análise por sectores permite identificar as várias potencialidades e vulnerabilidades:

Ao nível dos equipamentos educativos:

POTENCIALIDADES

  • Uma rede razoável de escolas pese embora ainda a existência de escolas funcionando em pavilhões pré-fabricados e dificuldades na adaptação de algumas

  • Início de estabilização do corpo docente

  • Existência de projectos inovadores de grande resultado

  • Existência regional de Escolas Politécnicas e de ensino superior dinâmico

  • Existência de centros de qualidade de formação de formação de professores

VULNERABILIDADES

Ao nível dos equipamentos

  • Necessidade de alargamento e melhoria da rede de escolas pré-escolar, de 3º ciclo e secundário

  • Criação de equipamentos de fronteira entre o ensino escolar e profissional e reforço das escolas profissionais

  • Necessidade de fomento de escolas mais activas, participativas e autónomas

  • Desenvolvimento do ensino superior politécnico e universitário

Ao nível do pessoal

  • Sedentarização dos docentes

  • Falta de pessoal auxiliar de acção educativa e de técnicos especializados

  • Criação de incentivos e apoios acrescidos aos professores com práticas inovadoras

  • Apoio às escolas de formação de professores

  • Formação de lideranças educativas locais

Ao nível das formas de gestão

ificuldades na definição clara de “políticas educativas locais”
ificuldades na definição clara de “políticas educativas locais” ificuldades na definição clara de “políticas educativas locais”

    Necessidade de aprofundamento das componentes regionais do sistema educativo

    Dificuldades na identificação e definição de estratégias específicas face a zonas-problema e grupos socio-culturais de grande insucesso

    Dificuldades no aprofundamento da relação de parceria

    Formação de lideranças educativas locais

    Ao nível dos equipamentos de Saúde

    POTENCIALIDADES

    Contexto

    Melhoria da qualidade de vida local

    Sinergias de parcerias existentes e de bons resultados de projectos comuns

    Equipamentose Pessoal

    Boa qualidade da rede hospital e razoável ao nível dos centros e extensões de saúde

      Escola de saúde Pública

      Proximidade de Lisboa

      Boas relações entre administradores das várias unidades de saúde

    VULNERABILIDADES

    Contexto

      Desqualificação territorial

      Envelhecimento demográfico

      Não estabilização das políticas de saúde

    Equipamentos

      Desarticulação entre os equipamentos e a rede urbana

      Deficientes condições físicas das instalações existentes

      Debilidades de presença ou de descentralização de equipamentos específicos: toxicomanias, sida, doenças mentais, etc

    Pessoal

      Insuficiente cobertura ao nível de especialidades médicas e dependência de Lisboa de outras

      Insuficiência de pessoal de enfermagem e auxiliar de saúde

    Gestão

      Cultura organizacional coorporativa

      Ausência de diagnóstico e reflexão prospectiva para a definição de uma política local de saúde passível de contratualização consensual

      Ausência de uma gestão integrada por sub-áreas de saúde –Almada, Barreiro, Setúbal – que integre todas as valências

    Ao Nível do equipamento da acção social

    POTENCIALIDADES

      Fortes redes sociais e associativas com tradição de trabalho em parceria;

      Grande dinamismo autárquico pese embora alguma debilidade nas formas de definição e liderança das “políticas locais”

      Dinamismos locais acentuados e multiculturais

      Razoável rede de equipamentos sociais, largamente de gestão privada de solidariedade social

      Existência de   redes informações de solidariedade

    VULNERABILIDADES

    Contexto

      Instabilidade do mercado de trabalho

      Envelhecimento demográfico

      Enfraquecimento dos laços sociais

    Equipamentos

      Insuficiência dos equipamentos destinados aos novos problemas sociais

      Reduzidos equipamentos de apoio aos idosos e primeira infância

      Insuficiente apoio e avaliação da qualidade dos serviços prestados pelas instituições

    Pessoal

      Insuficiência quantitativa e qualitativa de pessoal

      Necessidade de maior interdisciplinarieade e de “cultura de projecto”

    Gestão

      Dificuldades na definição de “políticas sociais locais” e de uma visão estratégica e prospectiva

      Dificuldade na implementação de políticas mais horizontais e de parceria devido à burocratização dos serviços e não descentralização das competências

      conservadorismo nas formas de gestão e de participação na maioria dos equipamentos e serviços, públicos ou de solidariedade social

    Ao nível da cultura e desporto

    POTENCIALIDADES

    Contexto

      Aumento e diversificação da procura

      Acontecimentos nacionais promotores de recursos e oportunidades (Expo, Porto2004)

      Diversidade paisagística e ecológica

      Património arqueológico e arquitectónico

      Grande diversidade de manifestações culturais municipais

    Equipamentos e Pessoal

      interesse e investimento autárquico nas áreas da cultuar e lazer

      Actividades diversificadas regionais neste âmbito

      existência de um corpo de técnicos nas autarquias mobilizados para este tipo de actividades

      existência de um tecido associativo alargado, com actividades diversificadas nas áreas do património, cultura, desporto e lazer;

      o rápido desenvolvimento de uma rede de equipamentos mínimos municipais tais como bibliotecas, piscinas, polidesportivo

    VULNERABILIDADES

    Contexto

      Não competitividade ou visibilidade dos equipamentos locais no contexto metropolitano

      Duplicação de esforços nos mesmos equipamentos

      Inexistência de uma “política regional” de desenvolvimento de cultura e desporto

    Equipamentos

      Déficit de equipamentos e de actividades culturais e desportivas de visibilidade metropolitana

      Dificuldades de articulação entre as iniciativas camarárias e rentabilização intermunicipal de alguns dos equipamentos

      Deficiente difusão espacial dos equipamento e desigualdades nas oportunidades criados nos diferentes espaços municipais.

      Ausência de equipamentos de maior especialização

    Pessoal

      Necessidade de fomentar a qualificação dos recursos humanos com intervenção na organização e gestão das actividades culturais e desportivas

      Necessidade de favorecer, animar e respeitar as formas locais e tradicionais de expressão cultural e desportiva

      Articulação entre as iniciativas autárquicas e as da “sociedade civil”

    Gestão

      Necessidade de repensar as estratégias de actuação autárquica: a montante na concertação intramunicipal e a jusante na relação entre a actividade camarária e a actividade da “sociedade civil”

      Melhor entrosamento entre os equipamentos a criar, as escolas e o meio urbano através de um processo de cuidadoso planeamento urbano.